O AMIGO MILIONÁRIO

A. Lobo de Carvalho
A. Lobo de Carvalho

Não há dúvida que, neste mundo, ocorrem muitas injustiças com os seres humanos. Uns morrem ao frio, outros morrem de calor e muitos outros por causa da fome, da sede e, sobretudo, por causa do egoísmo dos homens, materializado em guerras fratricidas. Contudo, enquanto assistimos a esta vaga de desgraças, como acontece com as que decorrem das graves tensões e conflitos na bacia do mediterrâneo, que originam a fuga de milhões de seres humanos em busca de segurança e de condições de vida com dignidade, verificamos também que, paralelamente, existem outros que não prescindem dos vícios adquiridos para projetarem uma imagem de falsa importância social, por não serem abundantes os recursos materiais próprios.

E quando é certo que uns passam a vida a mendigar pelas esquinas e a dormir debaixo de pontes, sujeitos a todas as arbitrariedades e mal conseguindo sobreviver, os tais outros viciados arranjam soluções para tudo, vendendo até a alma ao diabo para satisfazer o ego e mostrar aquilo que na realidade não são. Tão cegos ficam pelo brilho da ilusão que nem se apercebem do fosso em que se meteram.

É sabido que corre um processo na Justiça relativo a uma ex-figura da política e que, segundo a comunicação social, sempre projetou vícios de novo-riquismo, não obstante os recursos materiais conhecidos serem escassos. Mas, veja-se bem, é tal a sua estrela da sorte, que se tem feito acompanhar de um amigo milionário, ou seja de um banco ambulante que, qual anjo da guarda, lhe faculta dinheiro a rodos para a sua vida de luxo já que, passar sem isso, seria um tremendo rebaixamento da sua pessoa. E vale-se desse benfeitor, amigo de infância, para justificar não só as suas despesas, mas também as de outras pessoas do círculo que o rodeia. É impressionante com que descaramento se recorre à mentira para lançar areia nos olhos dos cidadãos e, sobretudo, tentar desacreditar os principais actores do sistema judiciário!

Esse amigo deve ter uma fonte inesgotável de euros, porque ao que se sabe são muitos os milhões que de lá jorraram e que voaram rapidamente para destinos diversos. Como é que o amigo, sempre disponível, juntou essa fortuna, é matéria de um esquema diabólico já descodificado pelos investigadores, de contornos absolutamente condenáveis e inimagináveis ligados a interesses e negócios onde o vocábulo “corrupção” ocupará lugar cimeiro.

Se a verdade fosse como o ex-político a pretende pintar, poder-se-ia dizer que tem um anjo da guarda único, porque não se conhecem casos similares em que um amigo empresta a outro, sem qualquer controlo, milhões e milhões de euros. Mas, de facto, não é verdade e, ao que se vai sabendo, estamos perante a evidência de um caso escabroso que ficará nos anais da história da Justiça e da democracia portuguesa.

Por mais justificações que possam ser aduzidas em tribunal para arquivar o caso, a questão é que foram tantos os indícios que levaram às provas recolhidas que não haverá volta a dar. E como acredito no trabalho dos investigadores e na imparcialidade da grande maioria dos magistrados — não obstante os esforços para queimar alguns dos intervenientes, assim como a gravidade que envolve o sistema judicial pelos últimos factos vindos a público — ficarei atento aos desenvolvimentos, pois trata-se de uma situação de excepção no panorama político nacional que vale a pena acompanhar.

Uma fortuna brilhante não cai do céu, como se pretende fazer crer com estes anjos, pois tudo me leva a crer que sobre ela paira a sombra de uma mentira. O dinheiro é um bem escasso para a generalidade das pessoas e, por isso, deve ser controlado como o leite ao lume, porque nunca se sabe como será o amanhã. Hoje temos o sol que brilha e nos aquece, mas amanhã poderemos enfrentar tempestades e escuridão, como é a situação destes anjos que, perante a Justiça, respondem pelos seus actos. Viver sob o manto da mentira é uma aventura que pode durar algum tempo, mas o momento da verdade acabará por chegar e com ele as consequências. Todos esperamos que os actores judiciais mantenham a lucidez e que os decisores honrem a sua nobre profissão de julgar.

Deixarmo-nos levar por emoções que nos são injectadas à distância, maioritariamente por anjos da política, é sentimento para contrariar, porque à nossa volta muitos deles mentem e guardam segredos inconfessáveis.

Para finalizar diria que a comunicação social, de um modo geral, tem levado a efeito um trabalho exemplar na denúncia pública de situações escabrosas do mundo da política, do amiguismo, dos negócios e dos interesses que, de outro modo, ser-nos-iam omitidos a nós, cidadãos, que pagamos com os nossos impostos as disfunções da democracia.

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