O Clube Fluvial Vianense e as suas histórias

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O Clube Fluvial Vianense foi para muitas senhoras, raparigas, homens e rapazes, pelo menos nos anos 50 e 60, um sítio de grande estima, divertimento e gratas lembranças. Pessoalmente, recordo os frenéticos bailes de carnaval e, sobretudo, as matinés dançantes de tantos domingos! Casais maduros, casais jovens, senhoras solteiras, jovens raparigas e rapazes, aí procuravam alegria, amizade, divertimento e, por vezes, idílio, namoro e, não raras vezes, casamento.

O clube, situado num prédio da rua Grande, tinha, se bem me lembro, no primeiro andar, uma sala ampla e bem arranjada, decorada de forma singular e peculiar, com ramos de flores de plástico e lenços regionais, circundada de cadeiras e, num dos cantos, um pequeno palco onde se exibia a orquestra. Tinha ainda um bar e, nas traseiras, uma outra sala com bilhar, onde jogávamos, pois era mais barato do que no Moura. Havia ainda um segundo andar, provavelmente com salas da direcção, mas, seguramente, com um outro pequeno bar com típico balcão alto e cuja frequência estava reservada a sócios veteranos e, raramente, a uma ou outra senhora acompanhada pelo seu par. Tinha o privilégio de ser convidado. Aí consolidei duas ou três amizades. Recordo, indelevelmente, o Manel Libório, o Rei do Fluvial, com quem muito conversava na companhia de um Anis Escarchado ou de um Triple Seco.

OS BAILES
As matinés dançantes, ao Domingo, eram sempre muito divertidas. A orquestra era constituída por 4 músicos que actualmente seriam também excelentes DJ´s. O Zaré e o seu saxofone, o Fontes, homem de 7 ofícios, e o seu acordéon, o Fininho, barbeiro, e a sua viola/guitarra, e o Sr. Sousa na bateria.
Começavam, para animar, com pasodoble e rumbas. Seguia-se a fase das valsas e tangos. Mais tarde, começavam os românticos slows; na parte final do baile, voltava a agitação com foxtrot, chá-chá-chá e marchinhas, sendo a despedida, já noite, até ao próximo Domingo, com La Cumparsita, o tango de Gardel que ninguém queria perder.
Todo o baile era acompanhado por um membro da direção, que assumia as funções de Mestre Sala e que, discretamente, zelava pelo bom ambiente, atento a qualquer atrito ou a atitudes menos próprias por parte dos bailadores ou da assistência.
Com muito carinho e saudade, recordo o Mestre Sala Domingos, altivo, queixo levantado, cerimonioso. Era meu irmão.

A ida aos bailes e a concorrência obrigavam à melhor apresentação. Por influência do Manel Libório e do Xico Matos, encomendei um fato no Carlos Alberto. Depois de várias sugestões do Sr. Carlos Alberto, optei por um fato Príncipe de Gales de cor entre o beige e o castanho claro, de trespasse, e com calças de bainha. Era um dos meus trunfos.

Os bailes eram muito concorridos e havia sempre muitos mais cavalheiros do que damas. Tornava-se necessário conseguir fazer a diferença para ter a oportunidade de dançar mais vezes. A concorrência era forte. Estar bem apresentado, cabelo bem cortado, com um pequeno toque de brilhantina Tabu ou Brylcreem, unhas aparadas, um pouco de after shave, de preferência Old Spice, ou um pouco de água-de-colónia. No bolso, sempre alguns caramelos espanhóis NATA para oferecer. No ar, uma certa fragrância de colónia 4711 ou Lavanda Puig, que as senhoras adquiriam em Tuy.

Havia jovens já nossas conhecidas e amigas que se sabia não recusavam dançar. Mas, por vezes, uma ou outra menos conhecida dava tampa! Intrigava-me e fazia-me pensar: serei feio, baixinho, ou estará comprometida? Danço mal, ou será que na última vez que dançámos a pisei várias vezes? Mas havia uma excepção, para quem nunca houve uma tampa. Era o Quim Lopes. Com o seu porte atlético, tipo Burt Lancaster, postava-se no meio da sala e, embora não dançasse muito bem, não precisava de se esforçar. O “sacana” dançava sempre, mas sempre!

Nota: O autor escreve ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico.

Continua
Feducas

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