O Prédio Coutinho

Aníbal Alcino
Aníbal Alcino

Há muitos anos que venho assistindo, “impávido e sereno”, às constantes polémicas sobre o “Prédio Coutinho” o que, por vezes, se torna cansativo…
Vamos por partes:
1º – O sr. Coutinho, amigo já há muito falecido, resolveu, com o dinheiro que economizou (dizem, no Congo Belga), mandou construir um prédio que enaltecesse a cidade de Viana do Castelo.
À semelhança do que havia em outras cidades europeias, angolanas ou mesmo americanas, ele também queria erguer um edifício que não só lhe desse honra e proveito como, outro tanto, igualasse os construídos nessas outras capitais.
2º – Convidou, para tanto, um competente arquitecto português e deu-lhe carta branca para ele construir um prédio (suponho) de doze andares…
3º – Apresentou o ante-projecto, com plantas e alçados, à Câmara Municipal de Viana do Castelo, o que ela, depois de várias reuniões e análises, lhe deu o aval, o aprovou e mandou construir.
4º – Com todas as licenças e “burocracias” que levaram meses a aprovar o afamado edifício, este ergueu-se em altura, para o que teve de se destruir um antigo mercado municipal, construído em ferro e ali existente há muitos anos. Ainda o cheguei a ver em 1960, ano em que vim leccionar para a Escola Comercial.
5º – Ao lado, solicitou-se a competência e o profissionalismo de um outro grande arquitecto do Porto, de nome Andresen, para levantar novo mercado, em cimento mais actual e moderno, a fim de substituir o antigo que, valha a verdade, tinha peças em ferro forjado que não sei onde param mas, suponho, estão guardadas em quaisquer “espaço” ou “armazém”…
6º – Os anos passam. O amigo e casal Coutinho “desaparecem” deste mundo e, agora, chegaram para aí uns senhores, mais ou menos engravatados, da capital, e nos dizem: — “Este edifício é uma monstruosidade. Esteticamente está “errado”. (Eu pergunto, o edifício ou a sua localização?)… Correm seca e meca. Tribunais. Serviços administrativos, etc., etc., e rematam: — “Os inquilinos que compraram os apartamentos, os “andares”, etc., mediante uma “compensação monetária”, terão que sair daqui!” Ora como é? Então o edifício foi aprovado por toda a Vereação — Vereação essa que, inclusive, possui um Pelouro da Cultura, um presidente engenheiro. Toda a gente o aprovou e, agora, por uma questão “estética”, devem ir à vidinha com uma palmadinha nas costas.
Eu, de facto, concordo que a construção arquitectónica, em volume, estraga esteticamente a leitura e a beleza da cidade de Viana do Castelo. Numa cidade tão linda, de casas entre dois e três andares junto à margem do rio Lima, a construção daquele edifício foi um erro! Mas, agora, passados tantos anos e legalmente aprovado pelo Município da Cidade, passar por cima das pessoas (talvez dos “sacrifícios” que fizeram para pagar os apartamentos) e mandarem-nos embora?
Por que não reconstroem ou reformulam o do arquitecto Andresen, ainda existente?…
Bem, a solução já não é comigo. Comigo é o de saber o que foi feito de uma grande tela, pintada a óleo, denominada por “Enterro de Cristo” que, enquanto estudante na Escola Superior de Belas Artes do Porto, recebeu uma primeira medalha (a mais alta classificação académica) e que, mais tarde, resolvi apresentar numa exposição colectiva, constituída por parte dos maiores artistas do país e obteve o primeiro prémio de pintura (no Museu Soares dos Reis, do Porto), com um júri constituído por grandes mestres, como Joaquim Lopes, Barata Feio e Dórdio Gomes — o prémio foi, na altura, de 500 escudos, que me deu grande jeito. Essa obra tem três metros por dois, e foi-me comprada pelo senhor Coutinho.
Essa pintura está em Viana. O que é feito dela? Será, agora, pertença de familiares que a herdaram? Em tempos cheguei a vê-lo numa revista, a cores, com o casal Coutinho, sentados num sofá do contestado prédio.

Aníbal Alcino

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