O PROFESSOR E O CIDADÃO NOS 100 ANOS DO SEU NASCIMENTO

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Nasceu em Lisboa a 10/02/1921, faleceu a 04/01/2017 e ontem, 10/02/2021, aconteceu o centenário do seu nascimento. Um Homem; um Professor; um Artista; um Antifascista, foi assim a sua vida durante 96 ano, preenchida e ativamente vivida.

Se não fosse esta pandemia que a todos nós nos atormenta, ontem seria um dia de lembrança desta figura da nossa Democracia, mas também uma figura incontornável das artes. Seria até um dia de festa, como ele muito gostaria que acontecesse, com uma tertúlia, onde a música, a poesia, a dramatização, as artes plásticas, e a política marcariam lugar. Estamos convictos que essa tertúlia irá ter lugar logo que sejam reunidas as condições para a sua realização, em termos de local apropriado e sem contingências do número de presenças. Porque Ele merece essa festa. Aliás Ele merece não ser esquecido!

O Professor Calvet de Magalhães mudou-se para Viana do Castelo após a Revolução dos Cravos e aqui se manteve até à sua morte. Teve um percurso ao longo da sua vida que, procurou mostrar, nunca considerou preenchido, já que procurava sempre mais, como intelectual dedicado, solidário e comunicativo, as suas maiores características.

Com seu pai e o seu irmão Manuel, muito cedo se iniciou na pintura a óleo e na serigrafia, tendo, em 1943, obtido o Prémio Nacional de Pintura “Amadeu Souza Cardoso”. Passou depois para o design gráfico e as artes plásticas. Foi um dos pioneiros portugueses da banda desenhada infantil, tendo colaborado nos jornais infantis da época, como “O Senhor Doutor”, “Tic-Tac” e “Mosquito”, entre outros, sendo ainda o paginador do “Diabrete”. Também foi o responsável gráfico e organizador do “Pirileu” e do jornal universitário “Horizonte” (1942-1943). Colaborou ainda na área gráfica do lançamento do Jornal “Diário Popular” e do diário desportivo “A Baliza”. Criou, com Jaime Cortesão Casimiro, a Editorial Confluência. Organizou e lançou, em 1946, o jornal das artes “Horizonte”.

No seu currículo académico, para além de se ter iniciado no Centro Técnico Profissional de Lisboa e Porto, de 1955 a 1964, passou por diversos estabelecimentos de ensino, com referência para a Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo (hoje ESM), Escola Superior de Belas Artes do Porto e nos Cursos ministrados pela Cooperativa Árvore do Porto. Os últimos anos de docência foram passados na Escola Profissional de Ofícios Artísticos de Vila Nova de Cerveira, que ele próprio ajudou a fundar. No campo da publicidade e das artes gráficas, teve uma participação profissional ativa em diversas Empresas. Tem várias obras publicadas.

A sua chegada a Viana do Castelo deu-se em 1974, altura em que o conheci na então Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo e, como recentemente dei a conhecer noutro local, foi pela mão dele que me inscrevi no MDP/CDE (tinha então 18 anos). Na altura, as reuniões políticas prolongavam-se pela noite dentro, mas era uma satisfação ouvi-lo dissertar.  A sua comunicação fluente, animada, sempre com humor pelo meio, e as “novidades” que dava a conhecer do que se passava na capital, nunca nos cansavam. Era a Revolução no seu auge.  Bons tempos.

Um autêntico Senhor. Um Homem completo.

A sua última grande aparição foi na sessão de homenagem que lhe foi feita em 24 de novembro de 2014, integrada nas Comemorações dos 40 anos do 25 de Abril de Viana do Castelo, num debate sobre educação, no qual o Professor e escultor Manuel Rocha lhe fez o elogio, pela obra que nos legaria. Esta sessão contou ainda com a participação do Professor Doutor Licínio Lima (vianense), da Universidade do Minho. Aqui, o Professor Calvet, na condição de homenageado, fez a sua e última intervenção pública, no estilo a que nos tinha habituado ao longo dos anos, dai ouvida com a atenção e o respeito de que era merecedor.

Obrigado Professor Calvet de Magalhães. Jamais o esqueceremos!

Rui António Viana

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