Oportunismo político

A. Lobo de Carvalho
A. Lobo de Carvalho

Não constitui novidade para ninguém que em política vale tudo, sendo que a ética se encontra, quase sempre, ausente do discurso eleitoral. Com efeito, quando acontecem eleições, a mentira e as falsas promessas são parte intrínseca de uma retórica bem delineada, porque aquilo que interessa é obter a simpatia dos eleitores para ganhar votos.

Quero referir-me, especialmente, ao PS, que mobilizou todas as suas estruturas, desde o governo aos militantes de base, visando manter o seu poder na Associação de Municípios, o que significa uma maioria de Câmaras presididas por socialistas – que de facto conseguiu –  mas não deixando de sofrer uma significativa penalização, porque perdeu alguns municípios, de entre os quais assume particular importância o da capital do país.  Não é, certamente, criticável a militância activa do Dr. António Costa, na qualidade de Secretário-Geral do PS, mas sim a forma exagerada como se envolveu, considerando que é, também, Primeiro-Ministro de todos os portugueses!

O recurso sistemático do Dr. António Costa, em todos os encontros comicieiros, à gestão do chamado Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) -, que, como se sabe, é o que prevê e coordena a aplicação em Portugal dos muitos biliões de euros provenientes da União Europeia, para fazer o país sair da crise –  foi uma infeliz quanto abusiva e demagoga atitude que merece ser criticada. Primeiro, porque os biliões de euros não são dele nem do PS, e segundo porque, de forma explícita, pretendeu colar um atestado de incapacidade política aos candidatos dos outros partidos. Quis fazer passar a ideia de que, votando nos socialistas, haveria muito dinheiro nas autarquias onde vencessem, o que não aconteceria nas outras. Só que a oposição cedo percepcionou o engodo, denunciando esta manobra socialista, e os eleitores não se deixaram contaminar. O resultado foi ter perdido Câmaras emblemáticas.

Eticamente, esta forma de fazer política, e, mais ainda, vinda de quem veio, não serve a nossa cidadania nem favorece a democracia, porque se trata de conteúdos discursivos enganadores que não enaltecem o Dr. António Costa, na dupla qualidade de Secretário-Geral do PS e de Primeiro-Ministro do Governo de Portugal, e também porque não acrescenta nada de positivo.

Tal oportunismo, sendo embora uma prática generalizada, serve apenas os agentes e famílias políticas que o praticam e não traz benefícios aos cidadãos eleitores. Ma é curioso como a nossa jovem democracia rapidamente aglutinou o que é negativo na prática política e até já tem capacidade para dar lições. De muito mau gosto, diga-se!

  1.  Concelho de Viana do Castelo

No que diz respeito, exclusivamente, ao nosso Concelho de Viana do Castelo, as mensagens políticas dos líderes nacionais dos Partidos tiveram pouco impacto, já que não ocorreram alterações significativas nas preferências do eleitorado. O PS mantem a maioria absoluta na Câmara Municipal, Assembleia Municipal e presidência de Juntas de Freguesia, sendo que o PSD, principal opositor, apenas conseguiu mais um vereador e um deputado municipal, em relação às eleições de 2017, mas por se ter coligado com o CDS. Isolado, não teve fôlego para se impor com dinâmica de vitória, realidade que já se arrasta desde 1993, sendo certo que esta eleição oferecia os ingredientes necessários para se afirmar como alternativa. A principal razão para que tal tenha acontecido será de natureza intrínseca, como seja a ausência de candidatos com forte impacto social e estofo político, que é um deficit que já vem de longe.

A lição a extrair pelos militantes do PSD de Viana do Castelo é que necessitam de ponderar, seriamente, as escolhas para a direcção dos seus órgãos internos e trazer para as fileiras os que livremente se afastaram, entre os quais há personalidades credíveis e capazes, por forma a gerarem dinâmicas sociais, políticas e de comprometimento que levem o Partido às vitórias. Apresentando-se sempre os mesmos, como tem acontecido, para além da imagem de desgaste e de incapacidade do Partido, assim como do falhanço sociopolítico comprovado, limitam-se as opções e torna-se um pesadelo que gera o alheamento dos militantes e o afastamento dos eleitores. Deste modo, dificilmente o PSD conseguirá voltar a impor-se como Partido de poder autárquico neste nosso município.

Mais ainda, a falta de uma liderança social-democrata local, forte e pragmática, tem ajudado ao surgimento de outros pequenos partidos e grupos chamados independentes, que vão ocupando espaço político e desviando votos dos partidos tradicionais. É um problema dos militantes social-democratas, sobretudo daqueles que sofrem de cegueira política e que estão prisioneiros não se sabe bem de quê, mas que, progressivamente, vão afundando um Partido que já foi grande neste Concelho de Viana e no Distrito. E o que resulta deste acto eleitoral autárquico é que, perante circunstâncias favoráveis, o PSD vianense não teve a capacidade, nem o engenho, nem a arte para se impor, assim como não foi capaz de mobilizar eleitorado, e mais uma vez foi derrotado para a presidência da Câmara, Assembleia Municipal e Freguesias. Por mais justificações e jogos de números que se inventem, esta é a verdade dos factos. E quando assim acontece, só há um caminho lógico a seguir! Esse caminho é a demissão dos órgãos, deixar o Partido respirar e escolher novos protagonistas.

  1. Conclusão

Ultrapassada que está esta campanha autárquica, saúdo, sincera e democraticamente, todos os eleitos para os órgãos a que concorreram, desejando que tenham um óptimo desempenho social e político nestes próximos quatro anos e façam o seu melhor para o bem-comum dos cidadãos do município de Viana do Castelo.

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