Os difíceis caminhos da comunicação

Gonçalo Fagundes Meira
Gonçalo Fagundes Meira

Provavelmente, nunca foi tão difícil como hoje produzir informação, mesmo dispondo-se de meios que outrora não existiam. Informar tem códigos a que se obriga quem informa. Só que as fronteiras estão cada vez mais difusas e, cada um, à parte princípios básicos, tem que definir as suas próprias regras. É consabido que a boa informação se pauta pela profundidade, qualidade e seriedade da notícia. Quando esta é vaga e especulativa, presta um mau serviço a quem dela é consumidor. A especulação, porque atraente para os menos esclarecidos, rende para quem a pratica, porém, deseduca.

Hoje, com tanta e variada forma de comunicar (com a dúvida sempre presente), os jornais, por exemplo, são os parentes pobres no domínio da comunicação. Longe vão os tempos em que o jornalismo era feito por grandes redações, divididas por especialistas para as mais diversas áreas, que, a par de formação básica, com o tempo, acumulavam saber e produziam notícias de qualidade. Hoje, todos têm que ser generalistas, e todos têm que saber de tudo, porque não se suportam financeiramente redações avultadas. Daí que a imprensa de investigação e acompanhamento de casos sinta cada vez mais dificuldades em manter essa condição.

É por esta razão que a comunicação, em muitos casos, se vai suportando de generalidades. O que vimos, e continuamos a ver com a morte de Isabel II, Rainha de Inglaterra, é paradigmático da informação de acontecimentos irrelevantes. A Senhora Rainha, simpática, de sorriso fácil, que gostava de tomar chá com todos, que viveu o suficiente para lidar com gente de várias gerações em amena cavaqueira, que, aparentemente, enfrentou com frieza e distanciamento os casos da família, com a sua morte, pôs o mundo a seus pés, e de pouco mais se fala. Sabemos que tudo passa e, que daqui a uns tempos, não se falará da Senhora, tal como acontece com toda a gente, porque o mundo não pode parar e, para a história, só poderão ficar os que por grandes feitos devem ser lembrados. 

Acontece que, para além de uma Rainha agradável, há pouco para dizer sobre Isabel II, porque ela não governou, já que não é essa a sua função. Ela não foi mais que um símbolo. Há povos que adoram os seus símbolos e que se unem à volta deles e, até aí, nada a dizer. A questão é que os símbolos em termos de matéria informativa de pouco valem. Poder-se-ia aqui falar sobre a Monarquia e a sua muita ou nula utilidade, particularmente, para quem se sente republicano e gosta de eleger os seus governantes. Contudo, o tema é apenas a comunicação e as suas contradições ou, se quisermos, os seus caminhos difíceis de trilhar. 

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