Os povos e os culpados

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Temos por hábito julgar os povos pelos maus exemplos dados pelos países a que pertencem, particularmente quando estes são fomentadores de guerras. Na verdade, nem sempre sabemos culpar os agentes da discórdia, confundindo cidadãos com quem os governa. Nada de mais errado. A Rússia invadiu a Ucrânia sem qualquer razão para tal, já que a invasão de uma nação, com a agravante desta ter menos recursos para se defender, apresenta-se como um ato ignóbil, merecedor de viva repulsa e condenação. Mas o anti-russismo que por aí vai tem pouco sentido. Descriminar crianças na escola só porque são de origem russa, como tem sido noticiado, é algo que não pode ser alimentado. Confundir o povo russo com o seu presidente e a sua corte, é semear a discórdia entre nações, quando sabemos que o Ser Humano é por natureza amante da paz e que facilmente se comove com as tragédias dos conflitos armados. Veja-se o abaixo assinado que correu na Academia de Moscovo, subscrito por quase 4.000 académicos, estudantes e graduados, a condenar a invasão da Ucrânia.

Também nós fizemos uma guerra colonial sem sentido – que nos custou caro em vidas e bens – porque éramos governados por alguém que odiava a democracia e a liberdade, que montou uma máquina para se perpetuar no poder, e que, já atacado pela senilidade, afastado do mundo em que vivia, só tinha na sua mente a defesa do império. No entanto, os colonizados, regra geral, não diziam que a culpa era dos portugueses, antes de quem os governava. Não é novidade que os primeiros líderes dos movimentos de libertação, intelectuais distintos, antes de iniciarem a luta armada, fizeram tudo para dialogar e encontrar uma solução pacífica e respeitadora dos direitos das partes.

As guerras deixam marcas profundas nas sociedades e afastam os povos por tempo incontável. Atente-se no que se dizia da Senhora Merkel e dos alemães, equiparando-os a Hitler, quando estivemos submetidos às orientações da Troika. No entanto, a Alemanha é o país que mais refugiados vem acolhendo. Por outro lado, constatamos que as empresas alemãs a operar em Portugal pautam a sua conduta pelo respeito dos direitos de quem lhes presta serviços. O melhor exemplo tivemo-lo nos ENVC, ao longo de quase 20 anos, numa cooperação notável com armadores alemães, com boa parte deles a premiar os trabalhadores na entrega de cada navio.

Os povos não promovem os conflitos, nem os desejam. Antes querem viver em paz, defender a amizade e praticar a solidariedade. Comparar a população russa com Vladimir Putin é apenas fazer o jogo deste.

                GFM

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