Parcerias e extremismos

A. Lobo de Carvalho
A. Lobo de Carvalho

A experiência democrática mostra-nos que faz parte da bíblia ideológica das esquerdas infernizar tudo aquilo que é privado, atribuindo especial ênfase aos lucros elevados nos negócios por parte deste importante sector da economia, ao mesmo tempo que censura os governos quando passam ou partilham com os privados a gestão de empresas públicas . Mas estas mesmas esquerdas não abdicam de exigir ao Estado despesas e mais despesas, para viverem sob o seu guarda-chuva. Só que o Estado, para cumprir os seus encargos, tem de ir buscar o dinheiro a algum lado e esse lado não é a administração pública, que é gastadora, mas sim a economia privada, que gera riqueza e é a principal fonte dos impostos. E, porque nunca chegar para o financiamento dos orçamentos, vê-se obrigado a recorrer ao aumento da dívida pública, como todos sabemos. Pelo que, tudo espremido, conclui-se que as esquerdas são peritas na propagação de uma demagogia sem escrúpulos, em nada contribuindo para a riqueza nacional, o que configura uma ideologia hipócrita que jamais conseguirei aceitar.

É evidente que nem tudo o que é privado se apresenta garantidamente bom, como é o triste exemplo dos bancos falidos, e outros em risco, como também no Estado nem tudo é mal gerido. Um e outro sector deparam-se com sucessos e insucessos, mas o prato da balança dos sucessos parece pesar mais para o sector privado, onde, de uma forma geral, as administrações das empresas respeitam as exigências da produtividade, com um controlo adequado em todos os níveis da produção e o que lhes está associado. Naturalmente que este desiderato consegue-se pela selecção rigorosa de gestores e pelo empenhamento na formação e incentivos aos trabalhadores, pelo que o recrutamento de recursos humanos constitui uma preocupação fundamental. Haverá, mesmo assim, erros e excessos, mas entenda-se que não há ninguém perfeito.

Assiste-se hoje, com frequência, à anatemização das Parcerias Público-Privadas, com o argumento de que só existem para receber os lucros, enquanto que o Estado é que tem que pagar os encargos resultantes de não se alcançarem os objectivos. Esta crítica até pode ser muito razoável, devendo ser esclarecida, porque creio que o grande segredo nestas administrações PPP reside nos termos em que os contractos são redigidos por ambas as partes, com o recurso a advogados muito experientes e que, através de pequenos pormenores na sua redacção, deixam implícito, de forma engenhosa, que o Estado saia prejudicado. Julgo que isso só acontece por uma de duas razões: ou os representantes do Estado que assinam os acordos são incompetentes, não detectando os subterfúgios nas entrelinhas dos contractos, ou então permitem-se fechar os olhos, quantas vezes, até, com dolo. As concessões por privados à exploração das auto-estradas, pontes importantes e algumas empresas, , é uma das situações mais criticada, eventualmente com solidez de argumentos.

Já as PPP aplicadas aos hospitais têm funcionado de forma muito meritória, quer seja em relação ao serviço prestado aos utentes, quer seja em relação à gestão e ao equilíbrio financeiro. O Hospital de Braga, gerido pelo Grupo Melo, é unanimemente considerado um óptimo exemplo no atendimento de qualidade que presta aos que o procuram, o mesmo se passando com o Hospital de Loures, gerido pelo grupo Luz Saúde, com uma projecção também ela muito positiva. E isto só acontece porque as respectivas administrações privadas têm evidenciado muita competência. Creio haver mais uns três hospitais em regime de PPP e não consta que haja problemas de funcionamento ou de desequilíbrios financeiros, pelo que a gestão privada destes estabelecimentos pode ser considerada de qualidade, coisa que, infelizmente, não acontece em muitos hospitais geridos pelo Estado, onde tudo falta, desde equipamentos fundamentais a recursos humanos de qualidade para as diversas valências. Isto porque o Estado, seja lá pelas razões que forem, não investe aquilo que deve nestes estabelecimentos de que é responsável directo. Porventura, faltar-lhe-á a excelência nos gestores que escolhe, onde prevalecerão critérios de escolha política e não de qualidade.

As esquerdas têm-se batido para que o Serviço Nacional de saúde (SNS) possa gerir todos os hospitais do Estado, diabolizando as PPP da Saúde. Prestam um péssimo serviço aos cidadãos, porque a verdade é que a gestão privada nos tais cinco hospitais tem sido reconhecidamente positiva, penso que deveriam continuar e, até, abranger outros hospitais. Acontece que, como a ministra da Saúde ostenta uma linguagem e uma forma de agir mais extremista do que os próprios partidos da extrema-esquerda, estes encontraram um apoio verdadeiramente inesperado para prosseguirem com a sua campanha e, por este andar, acredito que as coisas vão ficar piores, infelizmente. Pessoalmente, lamento que o Hospital de Braga vá mudar da gestão que o projectou para uma outra, estadual.

A saúde é um bem precioso com que não se brinca e não deve, por isso, ser alvo de lutas ideológicas, nem de ajustes de contas, nem vinganças, nem ninhos para afilhados da política. Na verdade, o que agora temos neste importante sector do Estado é exactamente o contrário, com uma governante deslumbrada com o seu cargo e possuída por sentimentos de intolerância a tocar o radicalismo, bem patentes nas manifestações e lutas que os seus grupos profissionais evidenciam.

Outras Opiniões

Os leitores são a força e a vida do nosso jornal Assine A Aurora do Lima

O contributo da A Aurora do Lima para a vida democrática e cívica da região reside na força da relação com os seus leitores.

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.