Partidos partidos… ideologias à parte

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Relembro um lugar comum dos dias de hoje: “Isso de direita e de esquerda não existe, são todos iguais”.

Talvez esta afirmação seja mais um argumento para confundir as pessoas, baralhar o jogo, enfim, misturar ideologias que são, em si mesmas muito diferentes.

A campanha eleitoral que atravessamos tem mostrado de forma clara que há duas linhas mestras de pensamento quanto à nossa organização social, que são as ideologias da direita e da esquerda na sua aplicação política.

E essas duas linhas, em quase tudo antagónicas, farão enormes diferenças nas vidas dos cidadãos e, consequentemente, no futuro do país.

O Estado social que temos tende a proteger os cidadãos mais frágeis, que infelizmente não são tão poucos quanto isso, dos desequilíbrios da economia, proporcionando-lhes uma rede de apoios que garanta necessidades básicas, nomeadamente saúde e educação, o que implica gastos consideráveis em estruturas fortes que consigam cumprir esses objectivos perante a comunidade.

De modo diferente, as correntes liberais e da direita em geral apostam num indivíduo bastante a si próprio, capaz do sucesso, assente no mérito, em que as estruturas de resposta social são privadas mas suportadas em grande parte pelo Estado, assentes num pressuposto de liberdade individual.

Estas diferenças profundas de perspetiva, marcam projetos de sociedade completamente diferentes, e a partir daqui são as opções dos eleitores que farão a escolha que determinará o caminho a seguir.

Uma questão que pouco está nas agendas partidárias é a demografia, área que terá evidentes efeitos na estrutura social desde já e, sobretudo, nos anos que se seguirão. 

As políticas seguidas nas últimas décadas, apesar dos avanços notórios, deixaram muitos cidadãos jovens em situação precária.

As sucessivas liberalizações das leis do trabalho conduziram a uma precariedade que não protege o emprego nem a natalidade. Jovens sem independência económica, não conseguem ter filhos, com implicação direta no sistema de segurança social.

As sucessivas alienações de sectores chave da economia, deixaram o país economicamente mais frágil e com menos poder de intervenção.

O século XXI será um século de envelhecimento populacional. Como será o acesso dos nossos velhos aos sistemas de saúde daqui a dez ou vinte anos?

O reflexo das tendências da demografia é lento, por isso negligenciado. São necessárias medidas de longo prazo desenhadas desde já. As sociedades vão estar sujeitas a mudanças profundas sobre as quais os agentes políticos terão de se debruçar agora.

As políticas liberais de desregulação, fazem ressaltar, na minha opinião, a necessidade de reforçar o poderoso instrumento que é o Estado Social na proteção das pessoas e na coesão económica.

A direita portuguesa apresenta nestas eleições variantes novas no nosso leque partidário, mas conhecidas e velhas neste nosso mundo. Projetos de absoluta e descontrolada liberdade económica que na verdade protegem as oligarquias em desfavor dos mais débeis, outros com laivos de totalitarismo desenterrando conceitos obsoletos como Deus, Pátria e Família, violentos para com imigrantes e minorias, defendendo nacionalismos que levaram a acontecimentos históricos trágicos, dividindo as pessoas e provocando a fractura social.

Nas eleições que se avizinham, existem opções variadas, mas a minha preocupação reside em dois elementos fundamentais.

Queremos um Serviço Nacional de Saúde tendencialmente gratuito conforme a Constituição, que possa acudir a todos quantos dele precisam, ou então queremos um Estado que ao financiar privados abrirá brechas nesse mesmo SNS gastando recursos necessários a todos nós?

Queremos uma Segurança Social devidamente financiada por todos, com capacidade pagar as pensões actuais e futuras, ou pelo contrário, um sistema híbrido onde aqueles que mais ganham e mais descontam possam desviar parte dos seus descontos para fundos de capitalização, desprotegendo assim o solidário bem comum?

Todas as propostas são legítimas, obviamente.

Nós, cidadãos eleitores é que temos uma palavra a dizer, palavra essa que será determinante quanto aos caminhos a seguir e à sustentabilidade dos sistemas que tendam a reduzir as taxas de pobreza a caminho de uma melhor redistribuição.

Este meu escrito é apenas um apelo à reflexão séria, esquecendo um pouco as lógicas partidárias, no aprofundamento de uma sociedade que desejo plural, inclusiva, democrática, justa, que respeite a diferença e onde todos tenham dignamente o seu lugar.

Bons votos!

José Carlos Barbosa

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