POLÍTICA DE TRAZER POR CASA

A. Lobo de Carvalho
A. Lobo de Carvalho

O desenrolar dos dias traz-nos sempre novidades boas e más, ou sem grande interesse, mas é tudo isso que nos faz seguir em frente cumprindo, assim, o nosso desígnio na passagem por esta vida. Uma vida onde os sonhos podem ser concretizados, onde podem ficar a meio, ou não passarem mesmo de meras ilusões. Tudo muito dependente das políticas vigentes.

A política dita as circunstâncias da vida em sociedade e dela emergem regras que temos de seguir, considerando que emanam dos eleitos que escolhemos para nos representarem nos órgãos decisores do Estado. A experiência mostra que parte dos representantes tem evidenciado apreciáveis qualidades, mas outros não passam de meros agentes de interesses corporativos e isso é a parte negra da política, que deveria ser límpida e conduzida por indivíduos sem telhados de vidro. Mas como as deliberações e aprovações implicam maiorias, surgem em muitas situações estranhos e suspeitos comportamentos que geram desconfiança, sendo em grande parte por isso que os cidadãos vão perdendo o interesse nos actos de participação colectiva. A democracia está longe de corresponder a um regime perfeito, porque é permissiva a intrusões indesejáveis e destruidoras dos alicerces societários. Corrupção e Interesses duvidosos, mas também projectos vanguardistas disfuncionais, são graves cancros que nenhum remédio conseguiu ainda curar.

A recente eleição presidencial mostrou uma pobreza e uma mediocridade de candidatos sem cultura de estadistas, que é aquilo de que o país tanto necessita. É mesmo confrangedor o que se verificou em relação à qualidade dos candidatos e à consequente e natural votação que obtiveram, que não poderia ter sido outra senão o baixo nível de aceitação popular registado. É evidente que a grande maioria dos eleitores tinha de votar, como de facto votou, no Professor Marcelo Rebelo de Sousa, o único que, com uma relevante cultura e experiência políticas, mereceu a confiança de todos aqueles que ainda confiam no Presidente da República como a última fronteira e como primeiro magistrado da Nação. Os restantes, que foram esmagados pela vitória incontestável do Professor Marcelo, mostraram ser uns infelizes à procura de protagonismo pessoal, uns, a defender as agendas dos seus partidos, outros, ou a dar uma imagem pessoal distorcida, outros ainda, confundindo aquilo que são eleições presidenciais e legislativas ou mesmo autárquicas. Nesta eleição, a que pela sua natureza, deveriam ter concorrido elites e serem tratados com elevação os temas importantes do Estado, assistiu-se a má língua, ódios acumulados, incompetência, demagogia, populismo, vaidosismo e visões retorcidas da função presidencial. Felizmente para os cidadãos e para o país, sobressaiu a clarividência e o saber do único estadista – o nosso Presidente reeleito –  deixando os outros a anos-luz de distância.

Penso que, no futuro, a Constituição da República Portuguesa deveria conter atributos muito específicos e de rigorosa verificação relativamente aos candidatos à presidência da República, por forma a que constitua um acto solene disputado por prestigiadas elites intelectuais e políticas e não por um qualquer cidadão, só por ser português e ter mais de 35 anos.

Cabe no contexto desta crónica, e porque poderemos estar perante mais um caso de populismo, abordar o provável regresso, às fileiras do maior partido da oposição, de Pedro Santana Lopes, o desertor, como lhe chamei num texto de opinião quando o abandonou. Perdeu-se no deserto da ilusão ao criar o Partido Aliança, convicto da sua importância sócio-política de outros tempos, e acabou por levar um murro no estômago, de tal ordem, que voltou a desertar, abandonando a criança recém-nascida, que é como quem diz, o seu novo Partido, agora em extinção por não ter futuro.

Comenta-se que, por aceitação mútua, o partido do qual desertou o irá refiliar e, para isso, nada como oferecer-lhe um fruto apetecido, que é a sua candidatura à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, onde já esteve, aliás, e deixou obra feita. Só que, parece-me, o tempo de Pedro para o exercício de cargos políticos é passado que não se repetirá, porque as últimas marcas que deixou tornaram-se negativas e indeléveis. Teve no seu passado distante uma onda duradoura onde surfou e foi brilhante, alcançou o auge como Primeiro Ministro, mas aí não vingou, e, desde então, quer dentro do partido onde nasceu, quer no Aliança, a sua estrela perdeu luz, com ideias que não convencem e que os militantes que em si acreditaram não esquecem. Assim, duvido que traga ao partido algum valor acrescentado, bem como também não acredito que consiga vencer a Câmara de Lisboa se realmente se concretizar o que por aí se ouve e lê.

Filho pródigo perdoado foi aquele de que falam os Evangelhos. Só que a nossa realidade é diferente e o perdão político para um desertor, com as consequências internas e externas que provocou ao seu partido originário, é uma nódoa que não desaparece. De resto, até seria um desprestígio para este segundo maior partido oposicionista não dispor de outros candidatos com perfil para a função, de entre os muitos e prestigiados militantes que, dedicadamente, lhe dão vida. Como dizia Orson Welles, a ambição é o último refúgio do fracasso e a ambição de Pedro tudo indica que fracassou!

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