Ponto final

A. Lobo de Carvalho
A. Lobo de Carvalho

Será que vivemos num país exemplar no que respeita ao cumprimento das normas de conduta, de natureza legal? Com muita pena minha tenho de dizer que não. A prova está nas cadeias repletas de infractores ricos, pobres e remediados, por toda a espécie de crimes cometidos, devendo acrescentar-se que deveriam estar detidos muitos outros que, por uma qualquer falha processual ou engenho de advogados, andam por aí a gozar a vida como se nada seja com eles!

Temos uma legislação penal que deixa muitas saídas para os criminosos, a quem oferece garantias de defesa que ultrapassam os limites do bom-senso. Em contrapartida, é extremamente exigente para com os agentes da autoridade, que são muitas vezes anatemizados, quer por se defenderem de agressões violentas, quer por levarem a bom termo a missão que lhes foi determinada. Cai-lhes logo em cima toda a espécie de organizações de direitos humanos, observatórios, falhados e lunáticos, que, para sobreviverem nesta sociedade dos interesses, têm de chamar a atenção através das suas posições de censura. De outro modo ninguém saberia que existiam e, com franqueza, não fazem falta nenhuma.

O segredo de justiça, tão em voga pelas broncas que sempre vão surgindo, é uma figura jurídica interessante, porque vai de encontro àquela definição popular que define segredo como algo que todos sabem em voz baixa. Notícias e pormenores processuais que se lêem na imprensa são disso um exemplo, não se podendo obrigar ninguém a revelar as fontes. É por isso que muitos jornalistas continuam a brilhar, e bem, revelando factos condenáveis.

A questão do contrabando de diamantes e outras jóias, por parte de alguns militares em comissões de serviço num país africano, também constituiu para o Ministro da Defesa Nacional (MDN) um segredo de justiça (de que já se se falava em voz baixa…). De tal gravidade era o segredo que nem dele deu conhecimento ao seu chefe directo, o Primeiro Ministro (PM) nem este ao Presidente da República (PR). Mas o curioso desta situação anómala é que deu a conhecer os factos à ONU, na pessoa não se sabe de quem, e aí já não houve a preocupação de manter o dito segredo!… Então, em que pais estamos nós? Dá-se conhecimento de uma grave situação, que afecta o prestigio do país e das Forças Armadas (FA’s) a uma entidade estranha, e não se informa o chefe do governo e o Presidente da República, que é também o Comandante Supremo das FA’s? Que país é este que esconde um segredo às duas altas figuras de Estado que o deviam conhecer? 

À data em que escrevo estas linhas sei apenas que o Ministro da Defesa Nacional irá à Assembleia da República esclarecer a situação aos deputados, mas certamente que não terá muito por onde se desviar perante os factos que são do conhecimento público, em que assumem fulcral importância as declarações do PM e PR, que revelaram não ter sido informados.

Há sempre um ou outro momento na vida que não nos corre de feição e penso que o caso do MDN é paradigmático, mau de mais para ser verdade e para que não tome uma atitude exemplar, digna de um verdadeiro responsável político. E essa atitude é a demissão do cargo! Desse modo, ficaria na memória dos cidadãos como um político honrado, pelo que, a não ser assim, ficará fragilizado, com a sua carreira política beliscada e com a imagem de um homem agarrado ao poder. E é pena, porque ao que se diz tem um passado com honra! 

Não desejaria terminar sem antes expressar o meu contentamento pela dissolução da Assembleia da República, que originará uma nova composição de forças políticas e novo governo. Na verdade, o que ainda está em funções foi vítima da sua arrogância e derreteu-se nos fogos que nunca soube controlar e apagar, de que é exemplo este último ocorrido no mais alto patamar da política nacional, que, por mais que se queira mitigar, manchou o país, e ponto final.

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