Qual é a magia das Festas da Senhora da Agonia?

António Pimenta de Castro
António Pimenta de Castro

Que magia tem as Festas da Senhora da Agonia, que é considerada, muito justamente, “a Romaria das Romarias de Portugal”? Não sei bem qual é, mas que tem uma magia muito especial, não há dúvida nenhuma que a tem. Viana do Castelo, é uma cidade mais ou menos calma durante o ano, mas no mês de Julho já se regista um aumento de movimento e “explode” de população nas Festas da Senhora d’Agonia. Nas suas festas, Viana vê aumentar, extraordinariamente o número de pessoas, nas suas ruas, locais de venda e eventos, e ainda nas suas praças. Obviamente, que a maioria, são forasteiros, que pretendem ver a Rainha das Festas de Portugal. Vêm assistir ao Cortejo Histórico-Etnográfico; à procissão da Senhora da Agonia ao mar; ao desfile de Gigantones e Cabeçudos; concertos musicais, (com as mais afamadas filarmónicas da região e do País); à Festa do Traje (e que lindas ficam as mulheres vianenses nos seus trajes garridos); aos Fogos-de-Artifício; à Procissão Solene da Senhora d’Agonia; aos desfiles; os Festivais; a Serenata, a Grande Feira; à sempre fascinante Visita às Ruas da Ribeira enfeitadas com os seus “tapetes” coloridos, a Cachoeira; entre muitos outros eventos. Quem nunca cá veio nesta altura, sonha em cá vir um dia.
Mas, para além destes forasteiros, nacionais e estrangeiros, há muitos vianenses “na diáspora” que voltam, quase todos os anos, para encontrarem os amigos, percorrerem as suas ruas estreitas, petiscarem o “mais saboroso marisco do mundo”, confraternizarem nas maravilhosas esplanadas com os amigos, enfim, matarem saudades… É tempo de Festa, de alegria, de repouso, de descontração, após um longo e duro ano de trabalho…

O grande Guerra Junqueiro respondeu ao seu amigo visconde da Torre, quando em Nine este o avistou da sua janela do comboio, lhe perguntou para onde ia, Guerra Junqueiro respondeu-lhe que, e passo a citar: «vou para Viana, terra das mulheres bonitas». Concordo plenamente e acrescento que, com o traje à vianesa, até mesmo as menos bonitas ficam lindas…

Vir a Viana, nesta altura, é para nós, vianenses do coração, como ir à Terra Santa, à Terra Prometida. Após um “exílio” que a vida nos impôs, é tempo de respirar o ar da nossa descontraída infância e mocidade, de “carregar as nossas baterias”, para mais um longo e árduo ano de trabalho, longe deste «Éden do Lima». É tempo de “esquecer” “A Crise”, a “Agonia” que, por vezes entristece o nosso País, o desencanto de quase tudo o que nos rodeia. É tempo de recordar os nossos queridos “que já partiram”, de rever os familiares e amigos, que cá ficaram, e de sonhar, sonhar…

Ah! Como nos “falam” estas ruas velhinhas, a escola onde aprendemos as primeiras letras (no meu caso no Colégio do Minho), os professores que nos “marcaram” para sempre (recordo sempre o meu querido professor David, que tanto me marcou positivamente, na escola do Carmo), enfim, como portugueses que nos orgulhamos de ser, que saudades (esta palavra saudade é bem nossa, nas outras línguas, ela ou não existe, ou tem outro significado bem diferente do nosso). Saudade é uma palavra que, por um lado é triste (é o nosso “fado”), mas por outro lado é terna, faz-nos sonhar, recordar, é tão nossa, tão portuguesa…

Mas as Festas da Senhora d’Agonia são, sobretudo, festa, cor, sons e convívio. Vamos viver estas festas, que se aproximam, com todas as nossas energias, com toda a nossa alegria. Vamos vivê-las como se fossem as últimas, vamos viver intensamente, saboreando cada dia de festa, um dia de cada vez, utilizando a expressão latina (carpe diem).

Cá estaremos em Viana para mais umas Festas da Senhora d’Agonia, para o próximo ano cá estaremos de novo, para continuar o nosso ciclo do “Eterno Retorno” à “Mãe Terra”. Os Judeus, em tempos de perseguição (quando não havia e não saberiam se iria haver algum dia o estado de Israel), despediam-se sempre, se bem me recordo, com esta frase: «Para o ano que vem, em Jerusalém!» Outras fontes referem assim esta despedida judaica: «Até para o ano, em Jerusalém!». Parafraseando estas palavras, despeço-me desejando que se divirtam nestas festas e que, «para o ano que vem, em Viana do Castelo, cá nos veremos outra vez!».

Foto: Manuel Rocha

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