Remonta à década de 80 do século passado a entrada de Mestre Carreiras para o Teatro Municipal Sá de Miranda. Havia começado a trabalhar na Companhia Fomentadora Vianense, proprietária do teatro que também detinha o Cinema Palácio, no tempo áureo das sessões de cinema.
O Sr. Daniel para ali foi fazer um pouco de tudo na manutenção do palco, num tempo em que as originais paredes de pedra caiadas de branco, a muita madeira e toda a cordoaria que compunham a antiga caixa de palco, desafiavam o engenho humano para fazer funcionar os mecanismos que subiam e desciam as varas com telões e cortinas, assim como para afinar os então rudimentares projetores. Tudo com recurso a roldanas contrapesadas ou, quando não, e quantas vezes, como diz o Sr. Daniel, “à unha”!
Posteriormente, em 1985, aquando da aquisição do edifício pela autarquia, propuseram-lhe passar para a função pública. E lá foi, “junto com a mobília!”, como diz com graça. A ele se juntaria entretanto Amadeu Costa, com quem trabalhou vários anos. E muitas pessoas mais, daí para cá. E é mesmo muito provável que quem alguma vez subiu ao palco do Teatro Municipal Sá de Miranda tenha tido o Sr. Daniel por cicerone. Pelo menos, nas últimas quatro décadas…! De tudo este homem dos bastidores, das varandas, da teia e do subpalco do Sá de Miranda fez e viu.
Tanto, que seria redutor enumerar os nomes de quantas vedetas do teatro, da música e da dança, nacionais e estrangeiras, o Sr. Daniel ajudou a entrar e a sair de cena, milhares de vezes abrindo e, outras tantas vezes fechando, o pano do centenário teatro. Sempre no escuro. Sempre na sombra. Diligente. Educado. Discreto.
Irrepreensível. Mestre Maquinista de Cena, recentemente, o Sr. Daniel cumpriu o seu último dia de trabalho. E, pleno de dignidade, deixou enfim o teatro para uma muitíssimo merecida aposentação. Desde aí, ao Teatro Municipal Sá de Miranda parece faltar a sua mão calorosa, a sua proverbial simpatia e o seu sorriso bonacheirão. Um forte aplauso, Sr. Daniel!
Ricardo Simões
Diretor Artístico do Teatro do Noroeste – CDV