Quem manda no País?

A. Lobo de Carvalho
A. Lobo de Carvalho

Assistimos todos os dias a situações que prejudicam, gravemente, os cidadãos, quanto ao desenvolvimento daquilo que é a sua vida normal, transformando-a num verdadeiro inferno, sem que haja quem lhes ponha fim. Refiro-me, naturalmente, aos movimentos grevistas que têm vindo a aumentar de intensidade e que, pesem embora as razões que considerem justas, levam o país para o caos social e económico.

Têm sido os professores os grandes protagonistas no campo das reivindicações e greves, com a exibição de slogans referindo que, com tal atitude, a escola também cumpre a sua função de formar os jovens, o que me parece completamente errado, porquanto a juventude precisa de bons exemplos e de professores dedicados à missão de ensinar, já que quando escolheram exercer esta profissão sabiam ao que iam. Não ponho em causa o direito de pugnarem por uma vida melhor em termos de estabilidade profissional e remunerações, visto ser o sonho de qualquer ser humano, mas não lhes reconheço autoridade para prejudicarem, sistematicamente, os alunos no seu percurso formativo, recusando-lhes o alimento intelectual.

Mas são também os vários sindicatos dos caminhos de ferro a imporem a sua ditadura no recurso à greve, prejudicando, de forma ostensiva e arrogante, milhões de pessoas que, no país, utilizam este meio de transporte para poderem lutar pelo pão de cada dia e que, por serem impedidos de cumprir o horário de trabalho, são prejudicados nas suas remunerações e podem, até, perder o emprego. Se estas acções estão escudados nas liberdades da democracia, aquilo a que assistimos mais configura uma selvajaria.

A Função Pública, considerando todos os sectores, está igualmente em polvorosa. Na Saúde, com médicos, enfermeiros e outros trabalhadores em confronto permanente; na Justiça, vive-se igualmente um ambiente escaldante ao nível dos trabalhadores dos quadros médios; nos restantes sectores da administração do Estado o clima não é melhor.

A julgar pelo crescendo dos movimentos reivindicativos, esta ebulição social assenta em várias injustiças que os últimos governos socialistas têm cometido. Assumem particular relevância os biliões de euros que o Estado deu ao Novo Banco e TAP; os prémios absurdos que empresas do Estado dão aos gestores; os milhões para os transportes, que dão sempre prejuízos; os abusos do erário público, assim como os milhões que, sob diversas capas, têm sido oferecidos para ajudar a manter a guerra no Leste europeu, em conjunto com os outros países da União Europeia. Isto significa que para uns a fonte é inesgotável, havendo sempre milhões de euros a jorrar, mas para outros há uma negação permanente para o natural desejo de uma melhoria salarial, traduzida não só na revisão de carreiras, como também na compensação pela subida da inflacção, que atingiu níveis insuportáveis. 

Estas políticas governamentais conduzem, naturalmente, a ferozes atitudes reivindicativas, já que o executivo não pode alegar que não dispõe de recursos, quando aquilo que vemos é dinheiro aos biliões para uns, e nada ou quase nada para outros, como é o caso dos miseráveis aumentos salariais e de pensões no ano em curso. Os cidadãos não vêem nem sentem justiça nas políticas do governo, mas antes o favorecimento para uns quantos privilegiados.

A maioria absoluta do PS, que sustenta o governo durante quatro anos consecutivos, não deverá, creio eu, repetir-se em próximas eleições, porque os erros cometidos são muitos e as broncas de alguns ex-governantes também não ajudam. Como nunca fui defensor de maiorias absolutas de um só partido, que sempre exibem comportamentos com tiques ditatoriais, lamento profundamente que tenhamos de percorrer este caminho do calvário. Caminho só possível pela cegueira de eleitores extremistas que, tendo traído os seus partidos e movidos pelos interesses, elegeram um governo socialista como tábua de salvação. Só assim se compreende a descida abrupta dos partidos à esquerda dos socialistas.

Estaremos a caminhar no sentido certo? Será preocupação do governo valorizar os recursos humanos nacionais com políticas justas? Haverá autoridade para repor o país nos eixos, face às ferozes posições sindicais que abusam de um direito constitucional?  Afinal, quem manda no país? São os sindicatos ou os órgãos de soberania?

Ficam as perguntas para os que têm a responsabilidade da condução dos destinos do país, que não pode andar ao sabor dos beijos e dos abraços, nem se revê em risonhas selfies de ocasião, assim como não pode conviver com a selvajaria das greves por tudo e por nada. Este país precisa de ordem e de justiça social, que emanam dos poderes constituídos, o que me leva a repetir o que, recentemente, escrevi noutro artigo: – o país necessita de estadistas.

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