RADICALISMOS DA DEMOCRACIA

A. Lobo de Carvalho
A. Lobo de Carvalho

Frei Bartolomeu dos Mártires, um santo que viveu e deixou obra nesta cidade de Viana, teve uma saída magistral aquando da sua participação no Concílio de Trento, no ano de 1561, dirigindo-se à mais alta hierarquia da Igreja Católica ali presente nos seguintes termos: “Vossas Senhorias são as fontes donde todos os prelados bebem; necessário é, portanto, que a água seja límpida e pura”. Cada um, em silêncio, assimilou como quis, e as palavras deste santo perduraram nos séculos, estão vivas e não se apagam.

Transportando essas sábias palavras para o nosso tempo e para o nosso país, também nós temos um Parlamento, que é a fonte das leis para todos os cidadãos, donde deveria sair legislação límpida produzida pelas senhorias ou excelências (como queiram) para todos os portugueses. Todavia, se leis que ali são produzidas conseguem, naturalmente, manter a regulação e o funcionamento do país  –  e mal seria se assim não fosse  -,  a verdade é que nem todas são límpidas nem dignificam a vida, a família e a liberdade responsável, pelo que há mesmo algumas que não passam de vómitos.

Desde logo, a lei sobre o aborto deveria ser um hino à vida, mas não é, pois foi criada para se assumir como um destino de morte de seres humanos de tenra idade, inocentes e indefesos. Oficializou-se, assim, uma prática homicida que o próprio Estado financia através do seu Serviço Nacional de Saúde, sendo a realidade que temos neste Portugal que quer acompanhar o que diz ser a modernidade, a liberdade e o progresso, mas no seu pior!

Não satisfeitos, porque ainda assim a população poderia ser demasiado numerosa, não descansaram as senhorias em aprovar a eutanásia, para acabar também com a vida dos idosos, ou a peste cinzenta como agora se diz, porque no conceito de muitos economistas só dão despesa. Esquecem-se que também envelhecerão e que os seus descendentes, um dia, lhes poderão interromper a viagem, despachando-os mais rapidamente para o cemitério!

Se estas duas situações são verdadeiros atentados à natureza humana, ou seja, o homicídio oficializado pelo Estado, que dizer dos “casamentos” homossexuais? É verdade que a homossexualidade sempre existiu e continuará a existir, e é-me completamente indiferente o que cada um faça com o seu corpo. O que repudio é que o Estado tenha retirado a dignidade ao instituto “casamento”, que o Direito Romano ministrado nas Universidades, ao longo dos séculos, sabiamente aplicou à união de uma mulher e de um homem, e não a indivíduos do mesmo sexo por ser antinatural.

Com isto prende-se a situação da adopção de crianças por homossexuais. É lógico que nos questionemos como vão elas evoluir na formação da sua estrutura mental e na personalidade? Que podemos esperar, quando lhes falta a presença e a convivência com uma mãe e um pai biológicos? Não me venham dizer que é a mesma coisa, porque não é, nunca o será, nem existem evidências científicas que o comprovem.  Que os partidos extremistas das esquerdas agarrem estas causas para sobreviverem, não é de estranhar, mas que partidos que se dizem defensores dos valores morais e éticos abracem tais alterações radicais na sociedade, incorrem numa fractura civilizacional muito grave que os desacredita, dando corpo ao surgimento de cada vez mais movimentos políticos independentes ou de extrema direita que neles não se revêem. E com razão, porque não se trata de evolução mas sim um retrocesso.

A corrupção é outro fruto podre que aumentou, sobremaneira, sob o manto da democracia, não havendo memória de tantos casos, evidenciando de forma bem visível como se construíram fortunas, de como se engana o fisco, de como se alimentam vícios com dinheiros públicos e de como reina a impunidade. As leis sobre este cancro social sempre contêm  atalhos para fuga às responsabilidades. E ainda há o descaramento de criticar a acção governativa de Salazar? No seu tempo havia uma Justiça que funcionava e só era temido pela sua conduta e exemplo de honestidade.

Outra atoarda das nossas senhorias parlamentares foi o abandalhamento da nossa língua e, por consequência, da nossa ortografia, com o actual acordo em vigor. O Estado abdicou da sua herança cultural, construída e aperfeiçoada por conceituados intelectuais e insignes escritores, para se rebaixar à cultura e à prática do facilitismo, sem que haja qualquer justificação científica. Para mim, um espectador é e será sempre uma pessoa que assiste a um espectáculo, e um espetador é um indivíduo que espeta qualquer objecto, assim como um tecto é a parte superior de uma casa, e um teto é o masculino de teta. Aplique-se o mesmo à palavra arquitecto, com e sem o c, e veja-se como fica no feminino, porque a pronúncia e o sentido têm de ser diferentes. É incompreensível a corrupção da nossa língua, a troco não sei de que interesses, e, mais ainda, como foi possível não ter havido uma oposição firme das universidades.

Como não pactuo com tantas excentricidades produzidas pelo nosso infectado sistema político, serei sempre um opositor firme ao radicalismo das alterações, sobretudo aquelas que ferem a consciência. E é por isso, também, que não abdico de seguir a ortografia que bons mestres me ensinaram e que rejeito, frontalmente, o aborto ortográfico vigente.

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