Realidade nacional

A. Lobo de Carvalho
A. Lobo de Carvalho

Não sei se deva empregar o termo asco ou nojo em relação ao ambiente político que se vive no país, tais são os jogos e as cumplicidades no espectro dos interesses partidários e pessoais. Como tenho o direito de me expressar, na qualidade de homem livre que sou, tentarei abordar, ainda que à vol d’oiseau, uma ou outra situação cujas dinâmicas têm de nos obrigar a pensar sobre o que desejamos para o bem-comum, sob pena de nos despersonalizarmos.

Começo pela Região Autónoma dos Açores, onde um povo cansado por vinte e tantos anos de poder absoluto socialista decidiu apostar, ainda que meio receoso, num outro modelo de governação, concedendo uma maioria de deputados ao conjunto de outras cores políticas do centro-direita, com uma mais vasta representatividade de outras sensibilidades, que se assume como o rosto de uma nova realidade sócio-política e administrativa.

Esta nova imagem do governo regional açoreano, liderado pelo PSD, pelo facto de incluir o apoio parlamentar do partido CHEGA, tem vindo a ser altamente criticada pelas posições que este último partido defende, nomeadamente a eventual revisão da Constituição do país, em que poderão estar incluídas algumas alterações substanciais a que o PSD, como partido maioritário nesta coligação, poderá emprestar algum apoio. Fala-se, com efeito, na introdução da pena de morte e na castração química para crimes devidamente tipificados. A extrema-esquerda e o PS vieram logo a público criticar ferozmente o PSD por ter ultrapassado a linha vermelha, apoiando a extrema-direita personificada pelo CHEGA, mas, até ao momento em que escrevo estas linhas, não é conhecido qualquer acordo para o novo governo açoreano, pelo que nem se pode emitir uma opinião.

Em todo o caso, interessa aqui evidenciar a demagogia, o cinismo e a pouca vergonha de uma esquerda e extrema-esquerda ambiciosas que, mordendo a extrema-direita por defender a pena de morte para certos tipos de crime, ela mesma impôs aos portugueses a pena de morte para inocentes bebés nos ventres maternos, sem possibilidades de se defenderem, ao aprovar a interrupção voluntária da gravidez, vulgo aborto, estando ainda nos seus planos matar os velhos, através de uma pretensa lei da eutanásia!  Pergunto-me por que ninguém fala nisto e apenas se pretende denegrir quem defende outros valores!? Não sou a favor da pena de morte, mas se me visse obrigado a decidir entre condenar à morte bébés inocentes ou criminosos homicidas ou outros da mesma estirpe, acreditem que não hesitaria em escolher estes últimos por razões óbvias.

Não perfilho certas ideias da extrema-direita, mas considero o direito a existir como qualquer outro partido político, visto que vivemos numa democracia! Só não aceito a oposição xenófoba de uma certa camada da população que quer passar a imagem de virtuosa, quando na verdade não o é, face à militância extremista de esquerda que desenvolve. Da mesma forma anatemizo, categórica e frontalmente, a plêiade de comentadores políticos, jornalistas e afins, por a maioria reagir de forma hipócrita perante esta dualidade de critérios, prestando vassalagem aos interesses instalados, como sejam a ideologia do género, feminismo radical, abortos, eutanásia, adoções de crianças por pares de homossexuais, etc ,etc.

Num outro contexto da realidade nacional, deparamo-nos com uma realidade pandémica em crescimento descontrolado, que exige medidas drásticas para a conter. O governo tem por obrigação implementar mecanismos visando esse desiderato e, não estando isento de críticas por demorar tanto tempo a impô-las, julgo que tem de merecer o apoio generalizado dos cidadãos, na justa medida em que a vida é um bem jurídico a proteger e essa é a missão dos governantes, com especial empenhamento nesta situação nunca antes experienciada. Daí que, mais do que críticas sem substrato ou interesses em ganhos partidários, torna-se necessário para o bem de todos cumprir as normas de segurança legalmente adotadas pelos decisores políticos, na certeza de que, defendendo-nos a nós próprios, estamos a defender os nossos semelhantes e a contribuir para a diminuição dos contágios, tendo como fim último a erradicação do vírus e a preservação da população. Estou, assim, como aliás devíamos estar todos, do lado do esforço dos governantes e de todos quantos estão na linha da frente a dar o seu máximo esforço no combate a esta pandemia. Criticar é muito fácil, exacerbarmos o nosso egoísmo é ainda mais fácil, mas fazer as coisas certas é bem mais difícil, sobretudo quando não existe uma experiência anterior da dimensão viral que nos cerca.

Os portugueses rapidamente aprenderam a exigir tudo aquilo que diz respeito às suas liberdades e garantias, pensando egoisticamente. Esquecem-se de que, para além dos seus casos pessoais, existem outros, quantas vezes mais complicados, a que é nosso dever dar apoio, o que implica abstrairmo-nos do nosso egocentrismo, por muito que nos custe, visando o bem-comum. E cumprir com rigor as medidas governamentais nesta fase difícil deve ser o primeiro passo.

Ser democrata não é aceitar só as esquerdas e viver com elas. É saber aceitar todas as correntes de pensamento. O partido CHEGA, sendo de extrema-direita, tem tanto o direito de existir como todos os outros, porque representa uma camada da população portuguesa. E é no Parlamento, e só lá, que se deve fazer o combate político. Goste-se ou não, o CHEGA existe.

 

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