Recordando os tempos da juventude

Leandro Matos
Leandro Matos

Enquanto jovem, teria cerca de 10/11 anos, juntamente com outros colegas da mesma aldeia, Neves, Vila de Punhe, caçava passarinhos. Era um hábito daquela época. As ratoeiras feitas de arame, em forma de meio círculo, com molas que faziam disparar um arame contra o outro, eram espalhadas pelos campos ao final da tarde para, na manhã seguinte, fazermos a recolha das presas. Fazíamos depois uma caldeirada com aquilo que caçávamos. Não sabíamos que estávamos a fazer algo de errado. Escusado será dizer que era hábito no seio de toda a rapaziada.

De pé descalço, saltavam-se muros, riachos, comia-se fruta das árvores espalhadas pelos campos. Estávamos nos anos 50 e não pensávamos no mal que iríamos produzir. São tempos que não voltam mais.

Com outros colegas fui “investigador” de ninhos. Passávamos dias a procurar ninhos. Encontrei de tudo nos campos. Outrora muito mais livres e com sementeiras. Hoje repletos de habitações, grande parte resultado dos surtos migratórios. Recordo ainda os bons tempos da escola primária. Nos campos aprendíamos a distinguir os ninhos de melros, pintassilgos, pardais, rolas, etc. Os de melro eram os mais difíceis de encontrar, porque eram feitos nos silvados. Os outros eram nos choupos, nas árvores, nas vinhas, nos lugares mais recônditos. Era aí que a passarada os escondia.

Provar uvas de todas as qualidades debaixo das vinhas no aproximar das vindimas era algo habitual. Havia aquele cheirinho ao morango… Coisas de rapaz sem preocupações.

Com alguma saudade, lembro as minhas vivências da juventude, na minha aldeia. Que rica juventude. Tantas coisas aprendi. A regar o cebolo, o milho, a ripar azeitona, apanhar erva para os coelhos, a regar a roupa que corava depois de lavada no rio. Coisas que a minha mãe me ensinou e obrigava a fazer.

Atualmente, e talvez porque o tempo permite ser mais pensador do que outrora, e de ter mais disponibilidade para recordar o passado, ficam estes apontamentos em jeito de história de outros tempos, que trazem à memória recordações de há mais de seis décadas.

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