Reparos

Author picture

Recordo que na minha infância vivia intensamente as festas mais populares da freguesia, então rural, da Meadela. As festas da padroeira Stª Cristina, as festas menores de Stº Amaro e S. Vicente, e as fastas da Senhora D’Ajuda, lugar onde eu residia. Mas também as festas pagãs que o cristianismo incorporou, com destaque para as janeiras, que começavam a ser preparadas em finais do ano, para saírem para a rua no mês de janeiro, celebrando a entrada do novo ano, a partir dos Reis.

As janeiras foram por mim vividas em criança durante alguns anos, pela mão do meu pai, que compunha músicas e escrevia letras e era também o ensaiador do grupo.

Ainda hoje lembro que, num clima generalizado de dificuldades (não esqueçamos que vivíamos os tempos duros do fascismo), era normal naquele grupo de homens cantadores saber quais as raras casas onde ofereciam vinho do porto, ou chouriço e presunto caseiros, ou o acontecimento que constituía a visita à casa do Zé Lima, proprietário da fábrica de chocolates “A Vianense”, que apresentava uma mesa com enorme quantidade de pastas de chocolates de sabores variados, que faziam as delícias daquelas gentes sem acesso a luxos, que ainda podiam levar para casa, para as famílias, os chocolates sobrantes daquela mesa.

Mas um pormenor delicioso da apresentação das janeiras, num café do centro da freguesia, era a declamação da “Nota Parola”, que mais não era do que a leitura de um conjunto de quadras e rimas, severas na crítica social, denunciando situações e relevando acontecimentos que, de algum modo, fugiam ao quotidiano da vida pacata da comunidade. Aí se viviam momentos de humor, com grandes gargalhadas, no meio de conversas críticas acesas por um copo de vinho ou cerveja.

Neste tempo completamente diferente em que vivemos, e em que os níveis de vida e conforto aumentaram, felizmente, de modo inimaginável, continua a ser atual e necessário apontar aspetos bons e menos bons da nossa vida coletiva, sempre com o objetivo de alertar e melhorar.

Então, aí vai a minha “Nota Parola”, desta vez em prosa:

1 – Felizmente está em ple-no funcionamento o nosso parque ecológico urbano, que permaneceu largos anos fechado, por motivos nunca cabalmente explicados. Tenho usufruído daquele espaço magnífico e lamento que, durante uma década, os vianenses não tenham podido usá-lo. Assunto ultrapassado, ao que sei, pelo empenhamento e trabalho excelente de um vereador do anterior executivo.

2 – O restaurante e apoios de praia da Praia Norte continuam fechados muito tempo após a requalificação do espaço, aliás muito bem conseguida, em minha opinião.

Só não entendo esta demora, em primeiro pelo tempo de construção do dito restaurante, e em segundo pela demora inexplicável de colocar estes equipamentos a funcionar, conferindo a necessária qualidade ao espaço público.

3 – A gestão dos parques de estacionamento do centro da cidade. Compreendo que o município não esteja interessado em gerir os “seus” parques, mas dados os preços exorbitantes praticados pelos concessionários, deveria o assunto ser objecto de reanálise, tendo em conta o verdadeiro assalto que constitui aos bolsos dos munícipes.

4 – O refeitório social, localizado na zona da Abelheira, mantém os seus frequentadores na rua, à espera da sua salvadora refeição. Era interessante, a bem da dignidade humana, proporcionar àquelas pessoas uma espera no interior do edifício, de modo a reduzir a sua exposição pública e aumentar o seu conforto, pondo fim a uma situação que não faz sentido.

5 – Por fim a falta de espaços destinados a atividades culturais amadoras. O investimento estrutural nesta área tem sido reduzido ou inexistente. Após o desmantelamento, há muitos anos, do espaço multicultural do ex BC 9, falta em Viana um espaço, a que chamarei “Fábrica de Cultura”, onde as coletividades amadoras possam desenvolver livremente as suas atividades criativas. Algo aparentemente simples, que traria grandes dividendos à comunidade vianense, com projeção para o exterior.

6 – Louvar todas as coisas boas que se fizeram e se vão fazendo, que devem ser acarinhadas e desenvolvidas.

Boas férias e boas festas populares!

José C. Barbosa

Outras Opiniões

Os leitores são a força e a vida do nosso jornal Assine A Aurora do Lima

O contributo da A Aurora do Lima para a vida democrática e cívica da região reside na força da relação com os seus leitores.

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.