Revolução da Maria da Fonte

Rui Maia
Rui Maia

Uma Nova “Maria” ressuscita na Europa
– Subsídios para uma Nova Política Europeia

Marine Le Pen na França, o “Brexit” na Inglaterra, a “Geringonça” em Portugal, a independência da Catalunha, e segundo a Agência Lusa, surge na Alemanha uma nova corrente radical, de acordo com o homem que encabeça esse movimento (Poggenburg) ambicionam “a criação de um novo movimento radical” cujos objetivos passam por apresentar candidatos às três eleições regionais marcadas para o próximo outono nos Estados da ex-Alemanha de leste.
Estes factos denotam que a “Maria” de Fontarcada afinal é ubíqua ao Continente Europeu, e não apenas à Póvoa de Lanhoso, berço dessa insurreição de Março de 1846. A turbulência política do século XIX demonstrou que o povo por vezes é quem mais ordena, e que este, ao mesmo tempo, consegue aglutinar o escol do país. Na Europa um pouco por todos os países que fazem parte da União sentem-se as reminiscências do passado, os restos de um descontentamento que parece ter estado adormecido, e que agora renasce das cinzas como um Fénix da mitologia grega. A tísica que atrofia a Europa, particularmente os países membros da União Europeia, parece emanar dos desequilíbrios provocados por um projeto coletivo que apenas tem servido uma oligarquia que se instalou nas mais altas instituições europeias. A moeda única veio desajustar ainda mais os abismos que existiam antes da CEE, e já com a UE persistem as moléstias de uma política feita para alguns, e não para todos. Se tudo começou com fins económicos, logo passou a ganhar contornos de natureza mais social, mais abrangente. Todavia, o projeto europeu parece não ser capaz de sanar velhos ódios que as “Marias” de hoje atiçam, motivados pelas fragilidades do sistema instituído, em muito aproveitadas pelos anarquistas e outros grupos que vivem do caos. Se a tudo isto juntarmos a conjuntura internacional, logo percebemos que a turbulência provocada entre os Estados Unidos e a China com a guerra comercial vai acentuar ainda mais o fosso, bem como os atritos entre velhas potências do passado, que mesmo depois de muito tempo fazem lembrar que o armistício de 1945 nunca foi uma verdade absoluta. A “Maria” deve padecer agora de certa esquizofrenia, tal é a confusão a que foi remetida. Descrença, peculato, corrupção, pobreza, injustiças, são cada vez mais um combustível para os grupos que pretendem ver a Europa em chamas e a “Maria” com a tocha ardente em punho. A Europa precisa de um timoneiro experiente, precisa mudar de filosofia, precisa credibilizar as suas instituições e a sua classe política; precisa clarificar o povo em relação à justiça, fazendo dessa justiça um pilar do projeto europeu, sem subterfúgios, sem mordomias, punindo quem deve punir. Podemos até pensar que o problema da Europa é uma espécie de alergia que se alastrou aos diversos países por circunstâncias naturais, mas não, a tísica que amedronta e causa moléstia à UE provém da classe política que, grosso modo, sempre foi o vampiro da sociedade, e que pela sua ganância, pela sua frieza e insensibilidade votaram um projeto gerador de paz e união a um destino desconhecido, que pende para as ditaduras; terá isto que ver com algum sincronismo histórico? Será que a “Maria” de Fontarcada fez algum “interrail” pela Europa, como Erasmus, e semeou os ventos do descontentamento? E quer agora reunir esse escol capaz de excomungar os pecadores, esses prevaricadores, esses infiéis ao seu próximo, castigando-os veementemente?
Fazendo recordar Zeca Afonso; “eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada” e a “Maria” agora já está acordada.

(*) Historiador, Mestre em Património e Turismo Cultural (U. M.), Inv. em Património Industrial.

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