Será este o “fado” de Portugal?

António Pimenta de Castro
António Pimenta de Castro

«Há nos confins da Ibéria, um povo que não se governa nem se deixa governar!»

Esta frase célebre, que é atribuída a Gaius Julius Caesar, político e general romano (100-44 A.C.), referia-se, sobretudo, aos Lusitanos que, grosso modo, habitavam estas nossas regiões (a Lusitânia ficava, mais precisamente, a Sul do Douro, mas, sobretudo no Estado Novo, os portugueses eram intitulados todos de “lusitanos”, para assim dar uma maior “identidade nacional” a todo o nosso país. Esqueceram-se, na nossa região, sobretudo dos Galaicos e outros povos que constituíam a Terraconense, na vasta Hispânia romana.   

Como podemos ver, depois de todos estes anos, continuamos iguais a nós próprios… Será este o nosso “fado”? Infelizmente, assim o creio. Vejamos: O interior do país está sistematicamente a ser despovoado. Fui professor de História do 3º ciclo e secundário e contam-se pelos dedos da minha mão os alunos que, concluídos os seus estudos nas Universidades ou nos Politécnicos, voltam definitivamente para a sua terra. A maioria da nossa “massa cinzenta” fica nas “grandes cidades”. Como podem voltar se a aqui não há emprego? As políticas postas em prática pelos sucessivos governos dos diversos partidos levaram quase ao desmantelamento da agricultura e das poucas indústrias, não incentivando a criação de pequenas e médias empresas, para assim fixarem a juventude e desenvolverem o interior do país. Temos na agricultura produtos de alta qualidade, excelente, direi mesmo, até inexcedíveis, de uma qualidade que não é fácil encontrar em muitas outras regiões; porque não tiramos partido disso? 

Os políticos que, na sua maioria, vivem em Lisboa, devem apostar no desenvolvimento de uma agricultura biológica de qualidade (mel, a castanha, milho, vinho, pão, azeite, etc.) e “exportar” esses produtos para o resto do país e para o estrangeiro. As nossas maçãs sabem a maçãs e não como muitas que são importadas do estrangeiro, que são muito bonitas, bem limpinhas com autocolante e tudo, mas não sabem a nada…O nosso mel é da mais alta qualidade, bem como o vinho, único no mundo, e os cogumelos silvestres, que são uma riqueza. Estes são apenas alguns exemplos do que deve ser a política de desenvolvimento da economia portuguesa. Há sempre mercado para produtos de alta qualidade, não tenham dúvidas. Não é por acaso que a nossa gastronomia é considerada, por uma grande maioria de pessoas de muitos e variados países, como uma das melhores do mundo.

No nosso litoral, todos sabemos, estão a destruir as pescas, tendo Portugal peixe de alta qualidade, sendo considerado um dos mais saborosos do mundo, para além de o sabermos cozinhar de uma maneira única. Muitos dos fundos que vieram para estes sectores da nossa economia, a meu ver, tinham como única finalidade destruir a nossa agricultura e as nossas pescas. Não é por acaso que importamos do estrangeiro a maioria dos produtos que consumimos. 

Como “dar a volta” a esta situação? Simplesmente valorizando aquilo que é nosso e que é reconhecidamente bom. Temos que apoiar todos os agricultores (sobretudo os jovens) para produzirem com qualidade os produtos tradicionais. Para isso temos de saber inovar, estudar o mercado e estar a par do que melhor se faz em outras regiões do país e do estrangeiro. Não duvidem que saber promover é saber vender. 

Sem provincianismos e rivalidades irrisórias, é urgente darmos as mãos e fazermos aquilo que melhor sabemos fazer: produzir produtos de qualidade. Apoiemos os nossos jovens, cuidando mais da sua formação e apoiando-os nos seus projetos, quando criativos e inovadores, já que só assim se fixarão na terra das suas raízes. Se assim acontecer, dependeremos menos “de fora” e desenvolveremos a nossa terra, povoando cada região e tornando-a mais apetecível para viver. Vamos a isso!…                       

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