Sons efémeros… Conceitos do Momento…

Sidónio Ferreira Crespo
Sidónio Ferreira Crespo

Num dia do Inverno passado, fim de semana, da parte da tarde, chovia com intensidade. Mesmo a fazer frente ao mau tempo, como tinha interesse em colocar certa correspondência na caixa do correio da “nossa” idosa mas sempre jovem Aurora do Lima, resolvi utilizar o automóvel para formalizar a diligência e ficar mais protegido da perturbação atmosférica.

Após alcançar o Largo de S. Domingos, artéria fundamental para atingir a finalidade desejada, aproveitei, mais à frente, para virar à esquerda, a fim de entrar na rua de Olivença. Na parte deste arruamento que entronca com a rua Manuel Espregueira encontrava-se parado um camião. Aproximei-me. Aproveitei para me dirigir a uma das pessoas presentes, que por sinal era o motorista. Em cordial conversa disse-lhe que não podia estar parado ali, a obstruír o trânsito. Sugeri, no entanto, que podíamos resolver com facilidade o problema, porque era, somente, necessário efectuar uma simples manobra de marcha para trás, entrando na rua Manuel Espregueira para poder passar e, depois, voltaria à mesma posição. Respondeu-me, agastado, dizendo que no saía daquele lugar enquanto não tivesse o problema resolvido, e que até iria demorar por causa da chuva, virando-me as costas.

Que fazer, então? Iniciei uma marcha, em sentido inverso, com muita dificuldade, tanto devido às condições do tempo como às viaturas estacionadas que ocupavam um dos lados da via. Tudo controlado e seguindo as rotas normais do trânsito local cheguei à Avenida dos Combatentes da Grande Guerra, que percorri, até virar à esquerda, entrando, fora de mão, na rua Manuel Espregueira, porque, com certa teimosia, gostava de deixar concluído o trabalho. O meu temperamento, por vezes, manifesta uma certa pertinácia que pode causar situações imprevisíveis. A pluviosidade tornara-se mais intensa, fazendo-se acompanhar de alguma ventania. Ao passar junto da sede do Sport Clube Vianense apercebi-me da aproximação de um carro da Polícia, cuja sirene, chamando-me a atenção, emitia aquele característico som estridente. Fui ultrapassado. Mandaram-me parar. Que chatice, pensei! Saíram os dois agentes que ocupavam a viatura. Vieram ter comigo. Um, era um moço muito novo. O outro, um homem já carregado na idade. Pela expressão dos gestos tive, desde logo, a noção da diferença de tratamento que iria ser utilizada. Seria a escola da vanguarda contra a escola do antigamente. O mais idoso principiou, logo, a exprimir termos menos correctos, alegando que ia ser autuado e até podia ficar sem a carta de condução, porque vocês têm a mania de serem “espertinhos”, repetindo, esta palavra, com certa ironia. O jovem, virando-se para o camarada, recomendou-lhe calma e perguntou-me, em termos harmoniosos e irrepreensíveis se tinha a ideia do que estava a fazer, ao mesmo tempo que pretendia saber o motivo de me encontrar naquela posição. Respondi-lhe, titubeando um pouco, que sim, quer motivado à chuva, quer à minha idade e ao sucedido, que expliquei, e um tanto precipitadamente, tentei, então, contornar o obstáculo.

Entraram no veículo, dizendo-me para os acompanhar, a fim de verificarem se a minha desculpa tinha cabimento. Confirmaram a situação. Ficaram a dialogar com o pessoal da camioneta. O mais juvenil, virando-se, para mim, a sorrir, afirmou que mesmo face aos acontecimentos constatados, a causa efeito, aparentemente, não se tornava urgente, pelo que não devia ter actuado desta maneira. Dê a volta, suba a rua, conclua a sua tarefa. A ocorrência, desta vez, fica sanada. O camarada, mais velho, ripostou, referindo, que por ele, devia sofrer as consequências do acto. Agradeci. O novo comportamento do agente da PSP impôs-se aos hábitos aprendidos no passado.

 

Nota: – Esta crónica, por vontade do autor, não segue a regra do novo acordo ortográfico.

 

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