“Subir a corda a pulso”

Gonçalo Fagundes Meira
Gonçalo Fagundes Meira

É natural haver respeito e estima por quem, partindo do nada, chega ao auge, tendo como razão, particularmente, empenhamento e esforço abnegado. Quem trabalha com a preocupação de ser sempre melhor, tornando-se um elemento preponderante na estrutura em que está inserido, merece justa compensação. Felizmente, o mundo mostra-nos diariamente casos de gente bem-sucedida que se sujeitou ao pior: uns, porque nada conseguiram para se ocupar, mesmo com formação avançada, e tiveram que se agarrar a trabalhos bem duros para sobreviver, mas acabaram ganhadores; e outros que, apenas tendo formação básica, partindo dessa condição, valorizaram-se e souberam agarrar o futuro.

Nem todos atribuem o sucesso ao mérito individual das pessoas, considerando antes que é muito fruto das circunstâncias, particularmente do bom enquadramento e da boa aceitação nas estruturas do poder. Ninguém vai negar que as simpatias podem, esporadicamente, ajudar alguém a fazer carreira, mas trata-se apenas de casos pontuais, especialmente no mundo empresarial. Em nenhuma empresa, em nenhum sector produtivo, seja de que área for, se pode atribuir a esmo lugares de responsabilidade na base da simpatia ou do favor, porque isso seria hipotecar o futuro da própria entidade em laboração. Uma boa unidade produtiva tem que assentar obrigatoriamente em trabalhadores competentes, seja a que nível for; e quem dirige no topo sabe perfeitamente que se assim não for vê o insucesso a instalar-se rapidamente.

Correndo o risco de ser suspeito aos olhos de quem me lê, para mim, onde melhor foi possível observar a êxito de quem partiu de baixo nível foi nos ENVC. Apesar de ser um mundo laboral que conheci melhor que nenhum outro, a realidade do país, por vivências próprias, também nunca me foi de todo desconhecida. Os ENVC edificaram-se, quase a partir de gente analfabeta. Mesmo muitos dos grandes mestres que vieram da capital, pouco mais sabiam que ler e escrever. Não foram muitos, mas conheci alguns que apenas sabiam assinar documentos. No entanto, revelaram-se sempre chefes astutos e técnicos competentes, muito contribuindo para uma boa gestão da sua área e aderindo, organizadamente, à estrutura produtiva da empresa, que no seu todo era bem complexa.

Mais tarde, os Estaleiros de Viana revelar-se-iam como uma empresa de artífices. Para isso, em boa parte, muito contribuiu a boa formação ministrada (exigente e nunca descuidada) a quem lá laborava. Todavia, apesar do refrescamento dos quadros, cada vez mais habilitados em termos académicos, aos menos letrados nunca foi vedada a possibilidade de progredirem e assumirem mais avançadas responsabilidades.
O êxito não nos bate à porta, antes tem cada um que caminhar até ele. E, por menor falta de condições, sejam de que natureza for, ninguém deve deixar de aspirar a subir até ao cimo. A corda, por mais escorregadia que seja, proporciona sempre subida.

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