Tirar as mamas do peito?

Manuel Quintas
Manuel Quintas

Só faltava mais esta. As mulheres queixam-se e os homens também. Vamos ao tema: no corpo do Santuário situado no Monte de Santa Luzia havia uns arquibancos de castanho que, porque estavam podres, foram substituídos por outros. Esta afirmação de «podres» feita numa assembleia geral pelo Presidente da Mesa não teve a contestação de ninguém porque, disseram os participantes, só dava altercação de palavras e desaguisados futuros. Mas houve membros pensantes que, com olhos de ver, foram ao templo verificar os ditos móveis e concluíram o contrário. E concluíram bem. Os arquibancos só precisavam de alguém que lhes fizesse a barba e, levemente, retocasse o bigode. E em estado de boa saúde, estão na capela do Centro Pastoral de Darque onde são muito úteis e fazem muito boa figura. E ainda bem que não foram queimados. Tudo quase bem. Mas só quase. Vamos lá por partes: 19- A Confraria de Santa Luzia, que é filha da Diocese, deu à mãe Diocese uma prenda vistosa. Muito bem. 29- A Diocese-mãe, que é uma senhora muito educada, pegou na prenda vistosa e chamou-lhe um figo. Muito bem. 3º – Eu faria exatamente o mesmo. Pois claro. 4º – Os Senhores Mesários, dotados de cursos universitários, teriam um gesto muito louvável de filiação e veneração, se não tivessem em mente adquirir os bancos de eucalipto que lá se encontram; Pois teriam. 5º – 0 dever de uma Mesa de Confraria é defender, zelar, cuidar e acautelar os interesses da Confraria porque foi essa a missão que os irmãos lhe confiaram. Claro como água da fonte. 6º – A partilha de valores com a mãe Diocese, que não é nada abastada, é um santo e salutar gesto de filiação e veneração que só merece louvores. Só louvores. 7º – A filha que dá coisas podres à mãe não é boa filha. Pois não é não.

Então a pergunta é pertinente: Estavam podres ou não?…
Se a caravana já passou há quatro anos, para quê desenterrar o defunto? Não é por contradição, maldade recalcada ou coisa semelhante. É só porque os ditos bancos de eucalipto lá colocados foram feitos a contra jeito do corpo humano e não a jeito da anatomia do corpo. Explico melhor: o crente que neles se senta sente-se mal posicionado para orar; e, se se coloca de joelhos, então nem sequer inicia a oração; obrigado a empurrar o corpo para trás, fica impedido de se inclinar para reverenciar a Divindade. A um vulgar de Lineu não faz falta um curso de anatomia.

Errar é humano; mas, manter o erro anos a fio, será sempre um desleixo feio e a contra gosto de quem precisa de se ajoelhar. Houve muitas reclamações. Um vianense da Abelheira, em carta serena e muito explícita que me mostrou, até expressou assim o seu pensamento: “as senhoras que queiram ajoelhar-se têm que retirar as mamas do peito e colocá-las na bolsinha de acompanhamento”, para não dizer – digo eu – na algibeira minhota de outros tempos.

Rezar de joelhos é um gesto de piedade que o orante pratica reconhecendo-se agradecido e também precisado, desvalido, sofredor e por aí adiante. Mas obrigar as senhoras a meter os altares do peito na bolsa dos apetrechos diários para se ajoelharem… Se fosse com o D. Armindo, ele rematava assim: “Temos conversado”.

Se há mesários, presidentes, diretores, reitores, professores ou superiores incipientes ou inexperientes, e todos os que começam são incipientes e inexperientes, pelo facto de o serem, não ficam dispensados de ser sapientes, prudentes, inteligentes, conscientes e sobretudo crentes. A isto chama-se senso comum que, quando acontece, ninguém se aborrece e Santa Luzia agradece.

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