Uma viagem de cem anos (5)

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Seguem-se os tempos dos movimentos do porto de mar, com as suas importações e exportações, as lutas fratricidas do Liberalismo e as suas consequências, a visita da D. Maria II a Viana, em 1852, os deputados que Viana tinha nas Côrtes para a legislatura 53 a 56 e outras tantas funcionalidades nesta Viana do Lima. Artur Maciel, passava em revista a vida de um século.

Eram veleiros ingleses que traziam o bacalhau da Terra Nova. O negócio, para o Minho e Trás-os-Montes estava na posse de duas firmas britânicas. Mandava-se laranja, mal-acondicionada, para a loira Albion. Também Lisboa recebia algum vinho verde e madeira de pinho serrada.

Pedreiros e cabouqueiros principiavam a amontoar-se no convés dos barcos de cabotagem para irem trabalhar na borda-d’água, ou fosse nas obras da defesa dos campos marginais do Tejo.

Os navios traziam da capital e do Porto os géneros de mercearia. De Setúbal já vinha o sal. Do Algarve aparecia, sobretudo pelo Natal, o figo, a alfarroba e a amêndoa.
A renda de bilros constituía a delicada e paciente indústria caseira.

Viana era assim, apesar de já cidade, uma terra ainda conventual, muito embiocada, mas sempre piscatória e marinheira, que começava a espreitar, através das gelosias do passado, as promissões da época.

As lutas fratricidas do liberalismo tinham impedido Portugal de acompanhar o desenvolvimento económico em que a Europa já francamente entrara. Vislumbrava-se agora certa acalmia, o país deitava os olhos para a revolução industrial e os primeiros fumos da descoberta da máquina a vapor esvoaçavam no céu vianês…

O funcionalismo público, com os serviços que se criavam, dando-lhe nova importância, enchia Viana de esperanças.

Qual era, exatamente no ano de 55, o mundo oficial que Viana abrigava?
D. Maria II estivera em Viana em 1852. Prepararam para a receber, o palacete do Campo da Penha, que então passou a ser praça de D. Fernando. Rodrigo da Fonseca Magalhães herdara-o quatro anos antes. Era nessa casa dos Trancas, começada pelo abade de Reboreda e concluída pelo sobrinho, Luís Gomes de Abreu – de quem lhe passou a alcunha –, que vivia o Governador civil, Gaspar de Azevedo d’Araújo, no gozo, ainda recente do seu título de visconde de São Paio dos Arcos.

Os deputados que Viana tinha nas Cortes, para a legislatura de 53 a 56, eram Joaquim Honorato Ferreira, cônsul geral na disponibilidade; o conselheiro Tomás Norton, juiz da relação do Porto; e Carlos Bento da Silva, oficial da Secretaria do Estado dos negócios da Fazenda.

À frente da Administração do Concelho achava-se o célebre Manuel José Gavinho, capitão do Batalhão Nacional de Caçadores de Viana. Parece que se arranjava com seis cabos de Polícia.

Vem a talhe de foice lembrar que, em vez de 10 como agora, o distrito contava 12 concelhos. Além dos atuais, havia o de Castro Laboreiro e o de Valadares.
Continua

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