Viana capital do Teatro

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Arthur Schopenhauer, filósofo alemão, 1788/1860, que, segundo os críticos, ficou conhecido pela sua obra mais evidente “O Mundo como Vontade e Representação”, afirmava que “não ir ao teatro era como fazer a toilette sem espelho”. Imaginemo-nos, então, a fazer a barba (para quem faz questão de não a deixar crescer) sem termos o espelho pela frente e apenas orientados pela apalpação! Provavelmente, muitos considerarão que se trata de um conceito desproporcionado, mas, com esta afirmação contundente, o filósofo germânico apenas pretendia evidenciar a importância que o teatro pode ter para quem dele gosta e o vive, como arte representada em palco com forte proximidade do público.

O Teatro em Viana tem tradições, e sobre essa matéria já alguém com militância ativa nesta arte escreveu o suficiente para sabermos que assim é. No tempo do Estado Novo, por exemplo, o teatro, particularmente nas aldeias, era das poucas artes com visibilidade e, por vezes, com o sentido crítico de que bem pouco gostavam os poderes. Vale a pena aqui lembrar, porque tantas vezes esquecido, Lucílio Valdez, que, através do Inatel, foi o maior dinamizador do Teatro entre nós. Vindo de Lisboa, adotou o Minho e particularmente Viana, como o espaço ideal para tentar (e tantas vezes o conseguiu) levar teatro onde nunca teria existido, se não fosse pelo empenho dele.

Mas o teatro local, particularmente na cidade, tem hoje uma vitalidade como talvez jamais tenha tido, mercê de um trabalho persistente e distinto, especialmente do CDV- Teatro do Noroeste. Com altos e baixos, ocasionalmente com dificuldades para além dos limites, tantas vezes por falta de reconhecimento dos poderes centrais, que não lhe facultaram os apoios a que tinha e tem direito por mérito próprio, mas em progresso constante.

O Festival de Teatro de Viana do Castelo, integrado num amplo programa anual de atividades do CDV, pela sua dimensão e pelo número e qualidade das companhias que vêm até nós (pág.3), aí está a demonstrar a valia e grandeza do teatro que Viana tem. Todos os que amam esta arte, quer os que a ela se devotam de corpo inteiro e lhe dão existência no palco, numa combinação alargada de variantes artísticas, quer os públicos que não lhe regateiam a sua presença e o seu aplauso, talvez possam dizer que o caminho de atalhos está a querer desaguar em abertas e fluídas avenidas. Mas todos sabemos que, na vida, a exigência é a maior razão do êxito. Que esta esteja permanentemente presente, como atributo que deve fazer parte intrínseca de cada um.
GFM

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