Abril, abertura, vigor, frescura

Começou a Primavera, entrámos no mês de abril e estamos no mês internacional da Prevenção dos maus-tratos na infância.

Este tema parece estar «na moda», mas tem de ter um mês dedicado, porque hoje em pleno séc. XXI, infelizmente, os casos de violência sobre as crianças ainda são notícia.

Frequentemente os meios de informação confrontam-nos, com a notícia sempre aparatosa, fugaz e superficial, não nos explicando a real dimensão do problema. A cada criança maltratada não só lhe é tirada a felicidade e a saúde infantil merecidas, como aliás lhe é lançada uma «praga» para toda a vida, qualquer que seja a sua sobrevivência. Para além do aumento da morbilidade e mortalidade diretas, os maus tratos resultam em alterações do ADN celular, de quem sofre o stress da violência crónica e repetida, seja ela física, psíquica, social ou sexual.

Quando um ser humano, em qualquer idade, enfrenta um perigo como uma infeção, ativa um meio de defesa – o sistema imune -, que pela ativação dos leucócitos (na gíria popular chamados de glóbulos brancos) agride e quase sempre destrói o vírus ou a bactéria infecciosa, através duma reação conhecida pelo nome de inflamação. Contudo, se, em qualquer idade, mas principalmente na infância, o stress e a inflamação forem muito prolongados, as próprias células humanas também são agredidas, originando doenças crónicas e diminuindo a esperança e a qualidade de vida. Entre elas podemos enumerar a diabetes tipo 2, as doenças cardiovasculares que incluem os acidentes vasculares e o enfarte de miocárdio, algumas neoplasias, doenças respiratórias, doenças mentais e degenerativas do cérebro como a Doença de Alzheimer.

Portanto, temos que nos perguntar como é possível permitirmos que as nossas crianças e as gerações vindouras sejam amaldiçoadas desta forma? Nem todas serão igualmente suscetíveis, e atravessarão a vida com períodos de maior resistência e outros de maior fragilidade, mas os que foram violentados nos primeiros anos de vida serão mais vulneráveis. Hoje as crianças portuguesas já não sofrem reguadas na escola, mas sofrem bullying. A tareia de cinto pode dar resultados demasiado evidentes para a CPCJ e, portanto, ser evitada, mas a severidade, a hostilidade, a negligência, e outros castigos pertencentes à galeria dos horrores mantêm-se. E, embora as crianças dos níveis socioeconómicos mais baixos corram mais riscos, este problema é transversal a todos os níveis, com perpetuação dos comportamentos de violência e de adição como o alcoolismo.

Existe na sociedade portuguesa, condições para promover medidas anti violência em todos os grupos etários. Medidas deste tipo seriam significativos na mudança da sociedade para melhor, acabando a curto prazo com as mortes como as que enfrentámos nos primeiros meses de 2019. A longo prazo, seriam precursoras de um futuro com mais saúde e qualidade de vida e menores custos inerentes à doença crónica.

Neurologista

Foto: Veja

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