Desafios da prematuridade: pais antes de tempo

Um filho existe desde o momento em que os pais sonham com ele, o desejam e planeiam a sua vinda ao mundo. O período da gravidez é frequentemente vivido pelo casal com um turbilhão de emoções, numa mistura de receios e antecipações positivas imaginando como será o seu bebé. O que os pais e mães desejam e esperam é que a gravidez progrida até perto das 40 semanas e que possam iniciar rapidamente os cuidados ao seu bebé, levando-o para casa e dando assim continuidade a um processo de vinculação. Só que todas as gestações são diferentes e, por vezes, determinadas condições clínicas desencadeiam um parto prematuro que vem alterar violentamente todo o percurso emocional que estava a decorrer no casal. Quando o nosso filho tem uma aparência frágil e minúscula, (imagem essa muito distante dos bebés que surgem em posters de publicidade e dos que povoam o nosso imaginário) e fica internado numa UCIN – Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais, logo a seguir ao nascimento, emergem sentimentos de tensão, angústia, depressão, e mesmo stresse pós-traumático.

Não é fácil ser mãe e pai quando o bebé está numa UCIN, ou neonatologia, ou neo, para os pais mais íntimos é, na verdade, um ambiente assustador, estéril, repleto de aparelhos e instrumentos médicos, intrusivo, sem intimidade familiar. A mãe, cansada, sem possibilidades de repousar ou de se alimentar adequadamente, tem muita dificuldade em conceber estar noutro lado que não ali, no hospital, ao lado do seu bebé. Contudo sente-se vulnerável, não esperava ser mãe assim, não conhece o seu papel, a sua função. Sabe que tem que estar ali, mas sente-se incompetente, não sabe o que fazer e sente-se, até, inútil perante médicos e enfermeiros que lhe dizem o que fazer e o que não fazer. É como se este filho não fosse verdadeiramente seu. O pai também vive a estranheza de não conseguir descodificar o seu papel, experimenta sentimentos de alienação, de não encontrar espaço para expressar emoções, para revelar fragilidade, sentindo-se por vezes um intruso num mundo impregnado do feminino. E assim o cenário que se antecipava só com tonalidades de ternura, orgulho e enorme alegria, surge com tons completamente diferentes, pincelado com os tons do medo.

E o mundo não treme só ali, treme por dentro, treme em casa, treme nas relações de casal, treme na atenção a outros filhos.
As equipas das unidades que acolhem estes seres humanos pequeninos e frágeis levam também ao colo os seus pais, que naquele momento também se sentem pequenos e frágeis. É um papel primordial o dos enfermeiros, médicos e psicólogos de apoio à neonatologia, o de ajudar estas mães e estes pais a sentirem que também ali há espaço para amar, para a ternura, para ser família. Para ajudar estes casais a sentir que importam, e muito, que o seu bebé precisa tanto deles quanto daqueles tubos e aparelhómetros. Que ali dentro também é possível cuidar do seu bebé.

Ao longo do período de internamento, em que os progressos e retrocessos são constantes, seria mandatário providenciar apoio psicológico a pais de filhos prematuros, mas tal não é ainda geralmente colocado em prática. É preciso estimular a relação entre os vários casais que estão muitas horas do seu dia nas instalações neonatais, fomentar a partilha e a autoajuda, promovendo assim o grupo a ser um efetivo suporte.

Ao desenvolver esta rede protetora em torno destes pais, neste período crítico, estamos a ajudar a uma gestão mais eficaz do stress parental, a diminuir a perturbação emocional e a desenvolver a confiança na capacidade de ser pai ou mãe daquele bebé.

Foto: Vida Activa

Item adicionado ao carrinho.
0 itens - 0.00

Ainda não é assinante?

Ao tornar-se assinante está a fortalecer a imprensa regional, garantindo a sua
independência.