Maioria dos doentes desconhece relação perigosa entre diabetes e insuficiência cardíaca

Especialista confirma que são muitos também os médicos que não estão alertados para o problema

 

A prevalência de insuficiência cardíaca (IC) é 2,5 vezes superior nas pessoas com diabetes 1, o que significa que esta doença é, como explica Sara Gonçalves, cardiologista, não só “um importante fator de risco de doença coronária”, mas também “uma das principais causas de IC”. 2 São problemas que surgem frequentemente em simultâneo, “sendo que cada um aumenta independentemente o risco do outro”.2 Ainda assim, a associação entre as duas doenças permanece desconhecida da maioria das pessoas, refere a especialista, a propósito do Dia Europeu da Insuficiência Cardíaca, que se assinala a 6 de maio e que serve de palco para o lançamento de mais um episódio, o terceiro, da série “O Casal”, que retrata a relação da Maria Diabetes e do Zé Coração.

“As pessoas com diabetes e a população em geral estão de alguma forma cientes do risco aumentado de doença coronária/enfarte agudo do miocárdio, do risco de algumas complicações microvasculares, nomeadamente retinopatia e nefropatia diabética (problemas oculares e renais), mas a associação entre a diabetes e a IC é ainda desconhecida da maior parte das pessoas com diabetes e raramente identificada como uma potencial complicação”, refere a médica. Uma realidade partilhada pelos clínicos. “Mesmo dentro da comunidade médica, é uma complicação para a qual nem todos os colegas e especialidades estão alertas e que nem sempre é abordada nas consultas de diabetes”, acrescenta a especialista.4

Sara Gonçalves confirma que “a IC é uma doença crónica, em que o coração não bombeia a quantidade de sangue suficiente por minuto, capaz de satisfazer todas as necessidades de nutrientes e oxigénio do organismo, necessário para o bom funcionamento do corpo”. 3 O que significa que “o coração tem dificuldade em funcionar para corresponder às necessidades do seu organismo (especialmente durante as atividades físicas) e simultaneamente, dificuldade em eliminar líquidos, levando à sua acumulação.3 Como tal, as pessoas com diabetes apresentam frequentemente cansaço e falta de ar quando fazem atividades como caminhar ou subir escadas, falta de ar na posição deitada e edema dos membros inferiores”.3

A boa notícia é que existem formas da pessoa com diabetes tentar evitar esta complicação, sendo fundamental “manter o seguimento pelo médico assistente, com controlo da doença e dos restantes fatores de risco cardiovasculares (hipertensão arterial, tabagismo, obesidade, dislipidemia)”, atesta a especialista.

E é importante também que as pessoas com diabetes saibam que “são sempre doentes com risco acrescido para o desenvolvimento de IC.No entanto, um acompanhamento adequado da diabetes, dos restantes fatores de risco e a utilização de determinadas terapêuticas (desde que indicadas) podem levar a uma redução deste risco”.4

A relação perigosa entre a diabetes e as doenças cardiovasculares e renais tem sido, de resto, retratada pela dupla Maria Diabetes & Zé Coração, protagonistas da campanha lançada pela Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca, Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, do Núcleo de Estudos de Diabetes Mellitus da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, da Sociedade Portuguesa de Diabetologia e da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia Diabetes e Metabolismo, com o apoio da AstraZeneca.

Em quatro episódios, Maria Diabetes e Zé Coração partilham a sua relação, que espelha a que existe entre a diabetes e o risco cardiovascular e renal. Depois deste 3.º episódio, faltará apenas o último, a apresentar no âmbito do Dia Mundial do Médico de Família.

 

(1)  Revista Portuguesa de Cardiologia, Vol. 38. Núm. 10., páginas 721-735 (Outubro 2019)

(2)  Shah AD et al. Lancet Diabetes Endocrinol. 2015;3:105–113.

(3)  https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/heart-failure/symptoms-causes/syc-20373142 consultado em Abril de 2020

(4)  Gæde, M.D. Effect of a Multifactorial Intervention on Mortality in Type 2 Diabetes. N Engl J Med 2008; 358:580-591. DOI: 10.1056/NEJMoa0706245

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