Saúde mental e gravidez

Como médicos, cabe-nos a tarefa de intervir na comunidade de forma a encurtar a distância que a Covid-19 impôs entre a população e os cuidados de saúde não urgentes. A gravidez é um tema transcultural que gera inquietações nos futuros pais, que agora se vêm mais “perdidos” do que nunca.

A ansiedade talvez seja a emoção que mais absorve os futuros pais, estando a ela subjacente o medo. (O ser-humano tem inerentemente medo do desconhecido, da do e da morte.) Antes de particularizar o caso da gravidez, de uma maneira geral, a ansiedade é adaptativa e permite-nos estar alerta, ser perspicazes e agir perante o perigo. Portanto, a ansiedade na gravidez é normal. Esta ansiedade associa-se frequentemente a alterações do sono, pela dificuldade em adormecer, como também em retomá-lo após despertares noturnos. A não ser que haja impacto vincado no quotidiano, não será necessário tratamento farmacológico. Quanto ao medo do parto, assunto que atormenta e preocupa muitas grávidas, há uma grande verdade que convém estar clara: a natureza dotou as mulheres de mecanismos para conseguirem dar à luz, e desde há milhões de anos que o fazem. Com tantas pessoas a habitar o planeta terra, partos bem sucedidos não podem ser frutos do acaso ou da sorte.

As variações de humor também são sobejamente conhecidas nas grávidas: os períodos de alegria, de tristeza, de irritabilidade e choro, ou tranquilidade e paz, atropelam-se sem motivo aparente. As alterações hormonais a que a grávida está sujeita justificam a maioria destas oscilações, que não devem ser valorizadas pela própria nem pelos demais. Não há lugar à toma de medicação (em especial, de psicofármacos) na esmagadora maioria dos casos, uma vez que são alterações que se irão desvanecer ao longo após o parto.
Também fruto das variações hormonais, há tendência à diminuição do desejo sexual no primeiro trimestre, podendo normalizar nos trimestres seguintes (ou até aumentar).

Muitos futuros pais têm receio do envolvimento sexual durante a gravidez, mas na ausência de contraindicação médica explícita, a intimidade entre o casal deve-se manter. O ato sexual não induz parto prematuro, não magoa o bebé e está associado a um aumento do bem-estar e da autoestima da grávida.

Por fim, as alterações físicas são fonte de baixa autoestima, falta de energia e cansaço.
É verdade que as formas adquiridas por uma grávida nem sempre vão de encontro aos padrões de beleza difundidos na sociedade, mas é fundamental relembrar que a gravidez é transitória e que todas as alterações físicas são em prol de um fim: a geração de uma vida.

Portanto, finda a gestação, o corpo readquire as formas anteriores e o peso tende a ser recuperado. Por muito que pareça paradoxal, a falta de energia e o cansaço melhoram com a atividade física ligeira e regular (como as caminhadas). Mesmo em fases da vida não-gravíticas, o exercício está associado ao bem-estar emocional e físico que valem a pena ser alcançados. Aceitar o seu corpo, a sua nova condição, e acreditar que após o parto a reabilitação é rápida, facilitam todo este processo.

Cristina Vieira Mendes – Médica Int. Psiquiatria ULSAM

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