55º aniversário de emigração clandestina

A epopeia da emigração portuguesa nos anos 60 do século passado, deve ser um dos maiores momentos sofridos na vida para centenas de milhares de compatriotas.
Eis uma pequena história da emigração dedicada aos filhos e netos dos vianenses que partiram clandestinos em 1964, para França.

No dia 12 de julho de 1964 partiram da estação de Darque no primeiro comboio com destino à estação de São Bento, no Porto, 21 vianenses, nos quais se incluía o autor destas linhas, que levava por bagagem uma pequena mala de cartão, comprada por 7$50 escudos, em Viana.

Chegados ao Porto, o grupo apanhou o elétrico em direção a Matosinhos e daí a pé até ao porto de Leixões, onde se encontrava, amarrada ao cais sul, uma motora. O “bilhete” tocou a cada “clandestino” 2 500$00 escudos.

Ao raiar da aurora no dia 13 de julho a embarcação largou as amarras e entrou no mar alto até ao anoitecer, ao largo e a norte da Galiza. Na madrugada do dia 14, comandada pelo falecido António Matias, de Chafé, navegou até ao anoitecer. Era então, “le 14 Juillet” dia Nacional da França. Sempre ao raiar da aurora, no dia no dia 15 julho nova tirada sem parar até ao anoitecer, já em águas Cantábricas, no país Basco, Espanha.

No dia 16 de julho, ao espontar da luz do dia, nova e última rota marítima navegando sempre ao longo da costa. Acostando perto de pescadores, estes responderam desta vez em francês: “Ici c’est la France”. O capitão apercebendo-se de uma praia, orientou o barco e logo que a “coca” tocou na areia, os “tripulantes” saltaram, pela proa, para a praia de modo desordenado. Porém, um teve de ser socorrido por não saber nadar. Era a água da praia de Saint Jean de Luz, no país Basco francês.

Em menos de meia hora, a Gendarmaria Mobile reagrupou os aventureiros por detrás duma duna e dali levou-nos, todos em jeeps, ao posto central. Como o nosso estado de esfomeados era visível, logo a seguir encaminharam-nos para um restaurante que nos ofereceu um pequeno almoço recheado com leite, café e muitos croissants.

Naquele dia os gendarmes obrigaram-nos a tomar duche e ao fim da tarde entregaram a todos um Récépissé, um salvo conduto, com validade para três meses. Naquele mesmo dia, telefonaram a várias empresas e 13 colegas de viagem encontraram trabalho naquela região. Os restantes tinham destino marcado com amigos ou familiares. Os gendarmes acompanharam-nos à estação de Biarritz. Eu comprei um bilhete para Paris.

Cheguei ao destino com poucos francos no bolso, na tarde do dia 17 julho frente ao edifício do Foyer du Batiment et Travaux Publics, em Champigny, onde pernoitei. Aguardei, então, a chegada do primo António do Souto, que me emprestou 30 francos.
Faz 55 anos, esta semana, a memorável epopeia.

José Rego <[email protected]>

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