Abecedário da corrupção – a nova obra de Paulo de Morais

O mais recente livro do vianense Professor Paulo de Morais é um grito que ecoa por Portugal inteiro à velocidade da luz. Da luz que cada dia que passa se apaga um pouco mais, porque o drama da pandemia que nos sufoca fechou livrarias, impediu a venda de livros e a continuar dessa forma acaba por nos tirar o fôlego. Mesmo assim, a obra apresentada publicamente no Centro Cultural de Belém a 19 de Setembro de 2020 desapareceu em menos de um mês, forçando a segunda edição logo em Outubro. Poucas semanas volvidas saía a terceira edição que, ao que consta, se encontra também quase esgotada.

Estou a referir-me ao Pequeno Livro Negro da Corrupção – esse fenómeno intrusivo que mina a democracia portuguesa. Não é tratado jurídico nem ensaio económico, mas sim um assustador registo de casos e de pessoas para memória futura, no dizer do Autor. O pior é que, se não nos precavermos, o ambiente de corrupção que por aí grassa pode apagar os dias risonhos do Futuro de Portugal que sonhávamos, ameaçando converter-se em estado terminal.

A corrupção nacional tende a banalizar-se e, pior do que isso, está a tornar-se sistémica. Cada vez mais impune atravessa fronteiras, da China ao Brasil, de Angola à Venezuela. «Existe corrupção para além da sua existência jurídica», em múltiplas circunstâncias, porque infelizmente muitas são as suas formas. «E em Portugal encontramo-las quase todas», como Paulo de Morais demonstra.

O pequeno-grande livro negro da corrupção tem, ao longo das suas páginas, uma apresentação colorida por ordem alfabética, onde regista casos e protagonistas de A a Z, e cada um deles merece uma entrada mais ou menos longa. O nome da instituição ou das pessoas envolvidas serve de título ao parágrafo, quer se trate dos que prevaricam ou daqueles jornalistas e activistas que por diferentes métodos combatem os ilícitos e abusos.
Contudo, nos parágrafos cujos títulos referem factos (de bancos, empresas, organismos, negócios escuros), na maior parte deles também aparecem nomes, muitos nomes que não mereceram o destaque de parágrafo individual. Por exemplo: no parágrafo intitulado FAMÍLIA, que ocupa três páginas, surgem à roda de seis dezenas de nomes. Sobretudo desses políticos e legisladores a que agora apelidam de «portas giratórias», título quase nobiliárquico de pessoas que saltam de poleiro em poleiro na superior missão da vigarice.

A editora Influência realizou realmente um trabalho esmerado, digno de inequívocos elogios. Mas talvez o livro do Prof. Paulo de Morais desse mais um passo em frente no sentido de melhor servir os leitores se lhe acrescentassem um índice onomástico que facilitasse a localização imediata de quem é quem ou de onde entra determinada porta giratória que de repente anda na berra. Porque «infelizmente a corrupção não está perto de terminar em Portugal», segundo garante o nosso Autor. E sobretudo porque este é um livro de recurso diário e não um mono bonito para morrer na prateleira.
R. de Saavedra

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