Ao que nós chegamos!

«A profissão de fé cristã deve estar entre os critérios de uma instituição da Igreja na hora de contratar funcionários para os seus quadros». (Anacleto de Oliveira, em Notícias de Viana de 12-6-2012).Se fosse eu a ventilar tema tão oportuno, a seguir à palavra «funcionários», acrescentaria «Mordomos e Mesários» porque o calo da vida dá uma sabedoria sem paralelo. E a esta sabedoria eu dou-lhe o nome de santa prudência misturada com alguma santa manha. E tudo isto porque, a Tia Luzia de Lanheses também me ensinou que quem nesta vida não tem manha, morre no meio do mar como a aranha. Alguma <santa manha> é bem precisa.
Em 20/7/2016, ao ser dispensado de Reitor do Santuário do Sagrado Coração de Jesus e de Capelão da Confraria de Santa Luzia, percebi com agrado que iria acontecer uma NOVA evangelização com NOVOS métodos, NOVAS Irmãs (freiras) e NOVA vida. Com tanta novidade, quinze segundos bastaram para ficar logo de acordo. Mas a verdade é só uma: se não estivesse de acordo, de nada me adiantaria porque a decisão superior estava tomada. Eu vi bem que, se quando completei oitenta anos de idade comuniquei por escrito que poderia estar a prejudicar a Igreja e, portanto, a Diocese, tanto pior com oitenta e dois. Capitão manda, marinheiro faz. Nem sequer me pus o problema da realidade da minha inutilidade de velho arrumado. Mas Deus escreve direito por linhas tortas. Logo me apercebi que a sorte grande tinha vindo ao meu encontro. É verdade. Saiu-me a sorte grande. Com tanta coisa nova em Santa Luzia, era preciso um NOVO ardor, uma NOVA genica, uma NOVA forma de expressão, NOVOS critérios, NOVOS métodos, NOVOS estilos, NOVA linguagem e NOVAS estruturas para implantar uma mais NOVA e mais PUJANTE espiritualidade. Que bom para o Santuário e para os fiéis. Só bom. Mas, no meio de tanta bondade e tanta novidade sonhada, entre trancos e barrancos e novidades de tantos, em outubro passado, uma carta proveniente do alto da serra, trazia, em resumo, estas novidades: «Os funcionários da Confraria de Santa Luzia vem informar V.Exa. que são ameaçados, tratados como incompetentes, proibidos de realizar funções sem lágrimas, vistos com desconfiança, sem condições psicológicas de trabalho e tratados como lixo». Ora se eu lá estivesse, como subalterno de tal patronato, era mesmo assim que eu era tratado. Teria que realizar a minha missão a chorar, seria visto com desconfiança e, pior ainda, tratado como lixo. Saí a tempo. O meu Bispo deu-me a sorte grande. E a verdade é que, na sequência do tempo, recebi uma convocatória do Presidente da Assembleia Geral da Confraria para uma Assembleia EXTRAORDINÁRIA com a seguinte ordem de trabalhos: «Comunicação aos Irmãos da Confraria da DEMISSÃO da Direção». Logo me lembrei da frase de Cícero «Ó têmpora. Ó mores» que o meu professor Arlindo Ribeiro da Cunha traduzia com incrível humor: <Ao que nós chegamos>. Mas ninguém se aflija porque o que for pinho tem que dar tabuado; e o que não der tabuado dá lenha para o lume.

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